domingo, 28 de dezembro de 2008

Nos Labirintos do Desejo


As maneiras de se relacionar sexual e afetivamente tem se transformado tão rapidamente nos últimos tempos que se nos apresenta como algo que atordoa, instiga, tortura e atropela. Sobre elas não temos mais nenhum senhorio. Sem dúvida isso nos amedronta como se estivéssemos diante de um animal estranho e não domesticado. O que fazer da vida? Escolher um relacionamento estável ou nos entregarmos a uma torrente de paixões fugazes? Afinal, quando temos uma queremos a outra... É preciso realmente fazer uma escolha? Deixemos a pergunta em suspenso para nos esquivarmos das respostas rasteiras e levianas.

Este parece ser o tema abordado no novo filme de Woody Allen “Vicky, Cristina, Barcelona” que conta a estória de duas jovens americanas que vão passar as férias de verão em Barcelona. A séria e sensível Vicky – prestes a se casar com o genro que papai pediu a Deus – e Cristina, que adora se enveredar pelos labirintos do desejo. Na Espanha se envolvem com um pintor sedutor e cheio de malícia, Juan Antônio interpretado com muita competência por Javier Bardem. O que parecia certeza se evanesce como poeira... “Como não se reconhecer nesses personagens?” Era o que me perguntava enquanto assistia o filme.

Um filme sóbrio e austero com uma pitada de Almodóvar. Saindo do cômico habitual, Allen parece discutir sem sensacionalismos ou falsos moralismos temas que inquietam e dilaceram homens e mulheres no mundo contemporâneo. Consegue falar profundamente de desejo e afeto sem o recurso a cenas impactantes. As caricaturas já meio surradas de neuróticos e neuróticas que povoavam seus filmes cederam lugar a personagens muito mais reais e convincentes. Vale a pena conferir!

2 comentários:

Júlio Costa disse...

Caro Adalbs,
Sou suspeito para falar, pois sou um grande fã do Woody Allen, mesmo das caricaturas surradas, mas achei sensacional, é uma obra prima, digna de uma verdadeira Tragédia Grega, que coloca questões, destrincha as angústias humanas, sem apresentar respostas, afinal as transformações das maneiras de se relacionar são só buscas de uma receita para solucionar questões muito antigas da humanidade.

Afonso disse...

Tô contigo, mais vale uma boa pergunta do que mil respostas: a certeza é o ópio dos tolos.