sábado, 20 de junho de 2009

STEVE JOBS - "PERMANEÇA FAMINTO, PERMANEÇA TOLO"


Não sou exatamente um fã de Power Point's otimistas e frases de autoajuda com belos conselhos óbvios, sou um pouco mais pessimista. Uma vez, ao ler um belo livro sobre educação infantil, o autor disse uma frase que, para mim, é uma das maiores verdades que já ouvi, "...conselhos só servem para quem não precisa deles...".
Mas este discurso de Steve Jobs, pronunciado em 2005, na formatura da Universidade de Stanford, merece ser ouvido e, se conseguirmos aproveitar o mínimo dele, já será muito útil.
Steve Jobs é um cara fantástico, por tudo o que ele representa na área da tecnologia, que, por estar diretamente ligada ao paradigma do consumo, destrói muitos idealistas e cria muita demanda inútil. Steve Jobs é um exemplo, ao conseguir criar inovações reais e ao manter a qualidade como um valor maior, coisas raras neste atual mercado de predadores vorazes, que cria museus de grandes novidades e aonde o disponibilizar mais rápido, a preços mais acessíveis, em geral, deixa a durabilidade e a confiabilidade de lado.
Fica claro, neste discurso, que Steve Jobs é um apaixonado pela vida e que, por isso mesmo, ao descobrir a insustentável leveza e fragilidade dela, fez uma opção por viver intensamente.
"...Saudações, aos que têm coragem..."
Uma nota final: Steve Jobs, que saiu de licença médica desde Janeiro, recebeu um transplante de fígado e retornará às suas atividades no final de Junho. Mais informações no link: http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iblrkoYA-fBaNjgEQETDFOnQ3BRg

4 comentários:

Marcos Jota disse...

Caro amigo Julio,

Nos últimos tempos, é raro eu poder dar um retorno para o que tem rolado no blog. Como hoje foi possível, vou aproveitar a oportunidade. Ainda mais que não é sobre música, assunto que infelizmente tenho pouco a contribuir.

Vi o discurso do Steve Jobs. Confesso que pouco havia ouvido sobre o digníssimo, mas gostei.
Estou em sintonia contigo, no que tange os princípios de amor pela vida e opção pela intensidade e qualidade, pautada pelo livre arbítrio e criatividade. O discurso dele é fantástico e está plasmado/conectado com a sua cultura.

A fala dele suscita uma reflexão e auto-crítica. Veja que ele construiu e realizou tanta coisa, num contexto social e histórico, que favorece: o EUA, país das liberdades e oportuinidade, onde criatividade, espírito empreendedor e audácia são valores, que podem se expressar na concretude de empreendimentos. Sociedade, onde fazer sucesso e liderança de processos são esperados e aplaudidos.

Estou falando isto, por que na nossa sociedade, há uma visão de mundo diferente: ainda ficamos cheios de dedos sobre sucesso e liderança. Somos muito impregnados de visões misturadas, num mosaico curioso: tradição católica de "bem aventurança", onde ser pequeno é que garante o paraíso, sendo sucesso um pecado, uma humildade retórica; misturado com uma herança difusa de esquerda, que se moldou na resistência à ditadura, na qual sabíamos claramente o que éramos contra e hoje ficamos perplexos com as dúvidas de que tipo de sociedade queremos construir; e finalmente, com um capitalismo manco, onde queremos ter grana e status, queremos consumir, mas sem realizar: "se der para passar num concurso do Judiciário ou Legislativo", ter um salarão e regalias, isto é, viver com o nível de consumo de um empresário de sucesso, mas as custas da recurso público.

Não estou aqui fazendo apologia ao EUA, nem estou afirmando que no Brasil não haja criatividade e espírito realizador. Quero é acentuar traços da cultura deles e da nossa, que nos diferenciam.
Temos aqui figuras humanas magníficas e lá também. Mas a expressão desta genialidade é que difere.
Definitivamente, não tenho a visão de que um dia nos aproximaremos, acho que seremos sempre diferentes, cada um do seu modo. Mas adoraria ver um dia aquele agricultor, ou catador de papel, ou qualquer outra figura humana esplêndida, que costumamos ver por nossa cidade, fazer um discurso na formatura de alguma faculdade, principalmente alguma Federal, onde a elite e a classe média constroem seu futuro...

Júlio Costa disse...

Velho Marcos,
Que bom vê-lo por aqui!
Primeiramente, gostaria de dizer que, a primeira parte de seu discurso, me pareceu, ou excesso de modéstia, ou uma justificativa inteligente, uma vez que você, com sua rara sensibilidade, tem sim muito a contribuir em nossos posts musicais.
Quanto ao restante, concordo com você, o Brasil ainda tem que se descobrir como nação, como diria o saudoso Darcy Ribeiro, fomos um país criado para ser uma colônia, ao contrário dos irmãos americanos, que foram criados para ser uma nova terra. Porém vejo um traço interessante em seu comentário, só o fato de termos um capitalismo, mesmo que manco, e de admirarmos o sucesso alheio, pelas lentes dos valores deles, é um grande sinal da influência da cultura deles em nossa. Não sei se quero agricultores ou catadores de papel fazendo discurso na formatura de alguma Federal (diga-se de passagem, Stanford e as demais americanas são particulares), talvez minha utopia vá um pouco além e ainda ouso sonhar com uma nação que utilize sua capacidade de simbolização, para criar uma nova cultura, menos calcada em valores materiais, e que valorize mais o subjetivo.
Grande abraço,
Júlio

Cristiano Abdanur disse...

Marquinho,

Não sei se é bem por aí. Acho que pensando assim corremos o risco, mesmo sem querer, de reverberar preconceitos, como por exemplo o pensamento de que brasileiro trabalha pouco ou é preguiçoso. Não acho que a coisa seja só cultural. Estamos falando de uma economia que é 20 vezes maior que a nossa, no mínimo, isso às custas de guerras mundiais e outras que eles inventaram. As pessoas querem fazer concuro não só pela acomodação, mas também pela falta de emprego. Outro dia vi um babaca dizer que 'bolsa família' é dar o peixe e o certo é ensinar a pescar. O problema, meu caro, é que o mar está sem peixe. Alguém tem que fazer essa redistribuição. Melhor que seja pras famílias carentes do que pra empresários através de privatizações e licitações que conhecemos bem. Não sou comunista ou anti-americano. Só acho que está na hora de inventarmos o nosso padrão, do nosso jeito, porque nesse jogo de comparações só ficamos por baixo, de joelhos, como todo bom colonizado.

um abraço

p.s.: gostei do discurso do Jobs pelo exemplo de vida, por explicitar o quanto ela pode ser aleatória, apesar da nossa ilusão de controle.

Marcos Jota disse...

Caro Cristiano,

Bom debater contigo outra vez.
Você está correto, o contexto é este mesmo. Não estamos em desacordo.

Você deve se lembrar que eu trabalho e milito junto a movimentos sociais. Mais recentemente estou atuando junto ao tema da "Economia Solidária". Como você sabe, nos últimos anos, este movimento tem crescido muito, há redes e fóruns (metropolitanos, estaduais e nacional) de empreendimentos solidários. Este é um movimento inspirado na máxima do Fórum Social Mundial: "Um novo mundo é possível" ou melhor "Uma nova economia é possível". Uma utopia de formular uma economia e um "mercado" em bases solidárias: fundadas na auto-gestão, na complementariade e não na competição (e outras possibilidades inovadoras...).

Então, longe de mim de reproduzir velhos conceitos, na verdade estou sempre em busca de novos paradigmas.
No comentário que fiz, queria mesmo é acentuar a nossa visão de mundo é diferente e diversa. Isto é um potencial e não um limitante.
Atualmente, estou assessorando grupos de agricultores/as urbanos, na sua cadeia produtiva. Vamos desenvolver uma metodologia para trabalhar a elaboração e implementação de um plano de negócio para o empreendimento deles.

Veja bem, já trabalhei também com a metodologia do SEBRAE, e estou convencido que tratar estas pessoas como pequenos empresários é um equívoco. São na sua maioria mulheres, com faixa etária acima de 40 anos, vindas na sua maioria do vale do Jequitinhonha, com baixa escolaridade e muitas delas bolsistas do bolsa família. São muito trabalhadoras, não só na horta, mas em empregos informais, na dupla jornada em casa e, na maioria, sofrem discriminação e apanham dos maridos.

Aí quando abordamos com elas sobre o tema da geração de renda: elas afirmam que vendem os produtos e ganham algum dinheiro, mas também se realizam com a atividade produtiva com outras dimensões: alimentação da família, produção de ervas medicinais, atividade terapêutica, possibilidade de socialização, trocas e doações para outras famílias do bairro.

Então, não dá para trazer uma lógica de empreendimento econômico tipo SEBRAE (Especialização, competência, qualidade total, produtividade, escala, nicho de mercado,...).

É aí que a tal "economia solidária" poderia se expressar. É aí que aquela diferença que tentei destacar no comentário deveria ser valorizada, e não na re-afirmação de preconceitos e de uma submissão de colonizados.

Quando tratamos com o novo, nos deparamos sempre com o contraditório. É fundamental ter uma prática dialética. É necessário sempre perguntar (dentre muitas outras coisa) se o que estamos fazendo é apenas uma cara nova, um discurso novo para uma prática velha.
É assim que me comporto e exercitei no post: temos que ter uma visão crítica sobre a nossa sociedade e cultura, visualizar e agir sobre as nossas contradições. Longe de mim também do discurso planfetário de dizer que tudo é por causa da "Globalização" ou do "Neo-liberalismo".

Vamos debatendo...