segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Circo da Fórmula 1



Porque uma pessoa assiste as corridas de Fórmula 1? Pelo fascínio pelo desenvolvimento da tecnologia? Pela competitividade? Pelo desfile das lindas mulheres que rodeiam as provas? Porque é fã do Galvão Bueno? Pelo estilo de vida dos vinte playboys batendo pega na pista? Porque seu pai, seus tios e todos à sua volta assistiam quando essa pessoa era uma criança?

Bom, acho que por todos esses motivos. No entanto, Nelson Piquet (o pai) deu a dica da pitada que deve ser acrescentada ao rol citado acima: pela possibilidade de alguém se estrepar.

Quando sofreu um terrível acidente na Fórmula Indy, Piquet foi indagado sobre o que deveria ser feito para as provas serem mais seguras. Simplesmente respondeu, com a irreverência que ainda lhe é peculiar: "Meu irmão, os caras estão correndo a 300 quilômetros por hora. Como isso pode ser seguro? As pessoas só vão lá, pagam ingressos, compram produtos, porque sabem que alguma coisa pode acontecer."

Concordo com ele. Desafiar a morte é o principal atributo desses homens de macacão. Quando um acidente como o do Felipe acontece, fica claro o caráter globo da morte da coisa e a nossa fixação pelo trágico.

Estimo melhoras ao Felipe Massa.

p.s.: sempre torci pro Senna. Aprendi a admirar o Piquet depois de velho.

Tulipa da Ticinha


Conheci a irmã dessa florzinha.

Morreu, tadinha...

Também, vai gostar de geladeira,

acaba entrando numa fria.

NANDO

p.s.: foto by Marianne Moraes (talentosa essa menina, hein?)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Caetano - Camaleão, mas com personalidade.

Comprei ingressos para o show do Caetano na próxima sexta. Nunca fui a um show dele, embora tivesse esse desejo, sempre acontecia uma constelação de eventos fortuitos que me impediam.

Bom, ainda não havia ouvido seus últimos trabalhos com cuidado, só de tabela.

Fiquei sabendo, há mais tempo, que o novo Caetano era rock e já vinha percebendo a frequência de comentários sobre seus trabalhos em espaços até então não muito interessados nele. O sítio do programa altofalante, reduto do rock alternativo, chegou a incluir o lançamento do novo disco do baiano como um dos mais esperados do ano.

Foi sob a influência da espectativa criada por esse "rêbu" que escutei numa sentada seus dois novos álbuns: e Zii e Zie.

Pra minha surpresa, não é que os discos são do Caetano mesmo, digo, o mesmo Caetano, aquele que se arrisca, mas que já tem tempo suficiente de carreira pra fazer as coisas em cima de fórmulas que ele conhece e se dá bem com elas e, porque não dizer, constituem o seu estilo, a sua forma de ser como artista.

É fato que existe uma banda. Quando digo uma banda, falo de um padrão de som definido. É certo que é uma banda de rock, baixo, guitarra e bateria, mas não criou pra mim nenhum efeito radical ou de quebra. Nada revolucionário. Fiquei com a impressão de que tem muita gente por aí criticando demais ou elogiando demais a partir da fala do Caetano, e dos outros que falam dele, de que ele está fazendo rock. Ele está sendo o Caetano. Talentoso como sempre e criando trabalhos originais mesmo depois de tanto tempo na estrada.

Mais uma coisa sobre a banda e um padrão definido. Sempre achei que faltava isso aos músicos nacionais. Tenho a impressão que a maioria dos mestres da MPB, com algumas exceções, soam sempre como crooners tocando com uma banda de baile, alguns com videokê. Não estou dizendo que a banda do Caetano é maravilhosa ou desprezando o talento dos músicos de estúdio nacionais, apenas acho que com os caras o Caetano conseguiu encontrar um som com personalidade, pelo menos até a paleta de cores mudar de novo.

Ouvi dizer também que o é muito melhor que o Zii e Zie. Não achei. Os dois discos são mesmo muito parecidos e estão no mesmo nível. Só achei desnecessária a versão de Incompatibilidade de gênios. Não gostei. Talvez porque sou um fã incondicional da versão do João Bosco e a considero definitiva.

Pra quem quiser conferir o show é nesta sexta no Marista Hall. Vão os links que encontrei na rede para baixar ou comprar os discos. A escolha é sua.

Aquele abraço.


Para comprar:http://megastore.uol.com.br/acervo/mpb/c/caetano_veloso/ce
Para baixar:http://musicshare1.blogspot.com/2007/11/caetano-veloso-c-2006.html


Para comprar:

Normalopatia

Recebi esse texto a partir de um grupo de discussão do qual faço parte.

João Pereira Coutinho, 32, é colunista da Folha. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Record). Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.

Achei um bom retrato dos consultórios dos dias atuais





Os normalopatas









Sorrio de espanto: de acordo com a bíblia da psiquiatria mundial, sou um demente




A TIMIDEZ É doença? Uma amiga minha acredita que sim e procurou ajuda especializada. Entrou numa consulta de psiquiatria e, como normalmente acontece, nunca mais de lá saiu. Um ano depois, e algumas sessões depois, existem progressos: ela consegue estar num "evento social" e conversar "naturalmente" com as pessoas em volta. A terapia ajudou (muito). A medicação ajudou (muitíssimo): um coquetel de antidepressivos e ansiolíticos que a obrigaram a sair da concha e a conhecer o mundo.Escutei tudo isso ao almoço e não pude deixar de pensar como o mundo é um local estranho. Tempos houve em que certos comportamentos pessoais eram parte da diversidade humana. Uma pessoa tímida era simplesmente uma pessoa tímida. Uma pessoa expansiva era simplesmente uma pessoa expansiva. Nem todos podemos ser borboletas. Alguns acordam para o mundo e descobrem, ao contrário do que Kafka dizia, que os pequenos insectos também têm o seu encanto.Gradualmente, a psiquiatria começou a ter uma palavra sobre o assunto, procurando "regular" ou "normalizar" a variedade de que somos feitos. Não é preciso ter lido Foucault para acreditar nessa história, até porque o radicalismo de Foucault não ajuda e só atrapalha. Basta olhar em volta.Basta olhar para amigos tímidos, ou então para crianças hiperativas (ou deliciosamente preguiçosas), e encontrar neles um potencial doente, um potencial demente, a exigir intervenção psicofármica. Uma parte da medicina moderna acredita na ideia, pessoalmente aberrante, de que deve existir um padrão de "equilíbrio comportamental" para definir um ser humano harmonioso, realizado e feliz.O problema é que poucos correspondem ao padrão. Depois desse almoço, regressei a casa, disposto a investigar o crime. E então encontrei, por feliz coincidência, o relato precioso da última reunião da American Psychiatric Association, em São Francisco. Segundo parece, essa vetusta agremiação de luminárias discutiu as últimas alterações ao manual de referência da especialidade, o "Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder". Publicado desde 1952, e revisto de década em década, o manual pretende agora incluir novas "doenças" mentais, em sintonia com o espírito do tempo. Exemplos? Vários.Para começar, existem "doenças" relacionadas à alimentação. É o caso da "binge-eating disorder" e da "night-eating syndrome". Em linguagem de gente, a primeira refere-se a uma compulsão excessiva para comer mais do que o estritamente necessário; a segunda pretende diagnosticar, e tratar, o gosto perverso por assaltar a geladeira depois da meia-noite. Mas a lista de novas "doenças" não fica por aqui.O vício pela internet e pelo e-mail ("internet addiction"); o gosto por vários parceiros sexuais, em sucessão ou em simultâneo ("sex addiction"); a compulsão "terapêutica" por compras ("compulsive shopping"); a fúria incontrolada e muitas vezes injustificada ("embitterment disorder"); o preconceito perante a "diferença" ("pathological bias"); e mesmo a tendência idiossincrática para colecionar materiais diversos ("pathological hoarding"), nada escapa à inquisição psiquiátrica.Leio esse admirável cardápio e sorrio de espanto. Ou de medo. Ou de ambos. Razão simples: de acordo com a bíblia da psiquiatria mundial, eu sou objectivamente um demente. Nada que surpreenda os meus leitores mais regulares, é certo. Muitos menos as pessoas que partilham a minha existência.Mas algo me surpreende. Eu nunca imaginei que a minha gula (diária e noturna); os meus acessos de fúria (justificados ou não); os meus recorrentes preconceitos (contra políticos, adolescentes ou feministas); os meus desportos mais íntimos (que não incluem a monotonia); a forma criminosa como gasto fortunas (em camisas, sapatos, ternos); e a minha tendência para guardar obsessivamente os mais ridículos objetos (jornais antigos, próteses, peças de lingerie alheias), fosse motivo para tratamento médico especializado.Prometo marcar consulta. E prometo emergir das sessões um homem novo: vegetariano, ambientalista, tolerante, multicultural e, no duplo sentido da palavra, com espírito de missionário.No mundo moderno em que vivemos, a única doença tolerável é mesmo a normalopatia.





JOÃO PEREIRA COUTINHO