Então, a African Safari Cup acabou para nós canarinhos. Terminou também, porém com requintes de crueldade, para nuestros hermanos argentinos. Simplesmente atropelados pela consistência e objetividade germânica. Os valentes e retranqueiros paraguaios caíram frente a paciente fúria espanhola, que mesmo jogando sem centro-avante, Torres tem sido um jogador a menos, dominou todas as partidas que jogou em campos africanos. Merecia estar na semi-final. Merecia enfrentar a Alemanha e protagonizar esta partida que definitivamente será uma daquelas que se separam como inesquecíveis na história dos mundiais. Ontem, caiu o último dos sul-americanos, que dominaram a Copa até restarem oito sobreviventes, mas terão de assistir a mais uma final européia.
Digo isso, pois essa era a Copa de desempate entre europeus e americanos. 9 a 9. Agora, independentemente de quem seja o Campeão, esse será um europeu. E, honestamente, acho justo. Realmente os três representantes do antigo continente jogaram um futebol não só mais organizado e competitivo, como também jogaram de uma maneira mais solta e corajosa. Parece que estão mais próximos do equilíbrio entre o se defender com firmeza e constância e o ter a bola no pé mais que seu adversário, mirando o gol sempre que surge alguma oportunidade.
Analisando de cabeça fria, Dunga e seus comandados pagaram pela teimosia, por sua inexperiência e a extrema necessidade de dar ordem a um estilo futebolístico que sempre foi especial justamente por sua “desorganização”. Explico, o lance escolhido pela Fifa como o maior da história das Copas ilustra bem como funciona essa desordem inteligente, que tanto tem a ver com o que sintetiza um brasileiro jogando bola. O camisa nove do time, Tostão, que por sinal não era o centro-avante, toma a bola de um italiano na lateral esquerda do campo de defesa brasileiro, toca para Clodoaldo, o volante do time, que pressionado em seu campo na saída de bola dribla três adversários como se estivesse jogando uma pelada em seu sítio e inicia a troca de passes, até a bola cair nos pés de Pelé na entrada da área e dos majestosos pés sair até encontrar a bomba de Carlos Alberto que entrava livre pela direita da área. Ali, em gramados mexicanos, foi dada uma das melhores aulas de como ser Campeão do Mundo jogando bola de maneira corajosa, competitiva e vencedora.
Voltando ao Dunga, considero que seu trabalho de renovação da seleção após o fiasco de 2006 deve ser louvado, sem dúvida os que jogaram pelos canarinhos em gramados africanos jogaram com mais empenho e vontade de vitória e o time evoluiu de maneira consistente no decorrer de três anos de trabalho. O problema começou depois da vitória da Copa das Confederações e a classificação em primeiro nas eliminatórias. A partir do final de 2009, o projeto de ser campeão do mundo começou a ruir. Escassos amistosos contra seleções de representação quase nula. Quase nenhuma aparição pública do técnico, entrevistas, audiência a jogos importantes de competições européias ou nacionais. Enfim, reclusão e blindagem de um grupo que pra ele já estava pronto. Deu no que deu. Fechou os olhos pra temporada pífia de Doni, Julio Batista, Grafite, Felipe Melo, Kleberson, Josué, Luis Fabiano e Kaká. Fechou os olhos também para talentos que poderiam ser muito mais úteis ao longo da disputa, tais como Carlos Eduardo, Lucas, Hernanes, Pato, Paulo Henrique, Uéslei, Elias, Henrique e outros mais. Enfim, se tivesse continuado seu trabalho de evolução do time teria um time bem mais competitivo. Resta assistir a fase final da Copa e tentar reaprender com os europeus como se joga bola.
Pra entender um pouco mais do que tentei dizer vale a visita a dois links que pra mim explicaram bem porque perdemos. Os dois vêm da família Kfouri.
http://blogs.lancenet.com.br/andrekfouri/category/coluna-dominical/
http://blogdojuca.uol.com.br/2010/07/5-de-julho-de-1982-estadio-sarria/
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