quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Já tomou seu gole de poesia hoje?

EMBRIAGUEM-SE


É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o

fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se

embriaguem sem descanso.


Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na

solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você

acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a

tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas

são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de

embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Religioso a seu modo, pagão e satanista, Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867) é considerado o pai do simbolismo francês, movimento cuja origem os críticos localizam exatamente no livro As Flores do Mal, de 1857. Na França, a obra de Baudelaire reverbera na poesia de outros poetas "malditos", como Arthur Rimbaud, Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé.


Celebrado como o primeiro poeta moderno e um dos escritores de mais forte influência nas gerações posteriores mundo afora, Baudelaire contrabandeou para a poesia de sua época, marcada pelo idealismo romântico, o mal-estar das cidades e o choque do feio, dos temas sujos e doentios.


Caros amigos de blog não nenhum conhecedor de poesia, estou entrando neste vasto mundo há pouco tempo. Mas, estou na busca! Vocês acabaram de ler um belo poema...

Ele e mais muitos outros estão no sitio: http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet003.htm


No último dia 15, me embriaguei de vinho e poesia, foi muito bom!

Sensação de liberdade de mente e coração: ouvir uma belo poema e degustar um bom vinho, junto de amigos.

Recomendo a todos, com frequencia e com a devida tranquilidade: Embriaguem-se.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

ROSA DE HIROSHIMA




Hoje, 6 de Agosto de 2008, é o aniversário de 63 anos do lançamento da Bomba Atômica sobre a cidade de Hiroshima no Japão, três dias depois, outra bomba foi lançada em Nagasaki.
Sou de uma geração, que, criada sob o regime militar, ouviu somente a história contada pelos vencedores. Via filmes sobre a Segunda Guerra Mundial e considerava os alemães e japoneses um grupo de malucos que tentavam dominar o mundo, a verdadeira encarnação do Mal, que, com muito esforço, competência e heroísmo, foram derrotados pelos defensores do bem, em geral americanos. Não via os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki como atrocidades tão grandes e achava que foram até necessários para acabar com aquela Guerra insana.
Hoje, revendo os fatos, fico extremamente chocado e não consigo conceber uma razão lógica para o imenso absurdo que foi o lançamento destas bombas. Mesmo assim acho que o choque ainda é pequeno, em relação ao impacto do acontecimento. Em nossa sociedade ocidental, vejo uma nota aqui, outra ali, talvez alguns grupos, mais conscientes, debatendo o assunto, mas acho que deveríamos todos parar, fazer um minuto de silêncio e meditar sobre o fato.
Mais chocado ainda fiquei, quando li o artigo da Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Bombardeamentos_de_Hiroshima_e_Nagasaki) e descobri alguns detalhes ainda mais impressionantes, como por exemplo o fato de que membros do alto comando do exército dos Estados Unidos consideravam as bombas completamente desnecessárias, que o Japão não se rendeu por causa das bombas, como foi amplamente divulgado para justificar os ataques e que, mesmo defensores da bomba, a consideraram um ato de terrorismo, mas defenderam que o terrorismo era justificável em algumas situações.
Esta é uma imensa mancha em nossa história e deveríamos tentar compreender melhor o que ocorreu.


A morte dos imortais: Jorge Amado X Roberto Marinho








                                                                                                         


O dia 6 de agosto une na morte dois ícones da história brasileira, unidos também na imortalidade da academia brasileira de letras.


Irônia? Histórias tão diferentes unidas institucionalmente e nas adptações da globo para as obras de Jorge.


A vida de Jorge Amado é repleta de genialidade e atuação marcados pelo estilo de vida livre de artista moderno e baiano. Foi jornalista, poeta, escritor, ator, político, empresário e ídolo de várias gerações. Transitou entre alguns dos mais célebres e geniais do seu tempo: Sartre, Simone de Beauvoir, Picasso, Gabriel Garcia Marquez, Pablo Neruda, etc. (e bota etc. nisso!!!)


Foi comunista, foi revolucionário, foi escritor reconhecido no mundo inteiro.


Teve na capacidade de ilustrar a brasilidade de forma crítica, lúdica e sincera sua maior virtude.


Recomendo o livro "Tenda dos milagres" como a síntese do que disse e o link http://www.releituras.com/jorgeamado_bio.asp para uma biografia completa.


Vai aqui a cena de introdução do filme "Tiêta do agreste " encenada pelo próprio Jorge que faz aqui o papel do narrador:





Já Roberto Marinho é famoso por outra característica: o poder.


Dono de um dos maiores impérios de comunicação do mundo. O jornalista foi o coadjuvante principal, por mais paradoxal que possa soar, da história brasileira dos últimos quarenta anos.


Herdou do pai o jornal "O globo" e emaranhado na virada política do golpe de 64 conseguiu fama, fortuna e a construção de uma das maiores empresas do mundo. A partir daí, a história do Brasil passou a andar de mãos dadas com a da sua "Rede Globo".


Roberto Marinho foi eleito para cadeira da Academia Brasileira de Letras sem ter escrito nenhum livro. As críticas aos seus atos e investidas são inúmeras, mas não me dedicarei a esse trabalho homérico aqui. Recomendo o documentário "Muito além do cidadão Cane" onde isso foi feito de uma maneira impressionantemente imparcial e competente. Vai aqui o link para a primeira das doze partes postadas no youtube. Vale a pena ganhar algum tempo assistindo. No final de cada parte aparece o link para a próxima.



sem mais


aquele abraço



terça-feira, 5 de agosto de 2008

One, two, three, four...

O Ramones é uma banda com a qual tenho uma história curiosa. O primeiro contato que tive foi através de um disco chamado "Locolive", o mesmo é composto por mais de 30 músicas de no máximo 3 minutos, todas elas tocadas em um ritmo alucinante e precedidas pelo clássico one, two, three, four... Posso dizer que não entendi. Para mim todas as músicas eram iguais. Recebi uma bronca do meu colega pré-adolescente que havia me emprestado o disco. Passado algum tempo, quando tive noção do significado que esses caras tiveram na história do rock'n roll somado ao aumento de hormônios fui capaz de entender o som dos caras. No momento em que o rock se afastava da simplicidade e das pessoas que o tornaram realidade. Estes quatro mau-elementos do subúrbio de NY, sem saber tocar, sem saber muito menos o que queriam, além de diversão e ser como seus ídolos, surgiram com algo que aprendi a amar. Como todo produto que vem daqueles que estam marginalizados denunciou o que na época era empurrado para debaixo do tapete. Após o amor livre e o sexo, drogas e rock'n roll dos anos 60 sobrou a ressaca junk que mostrava o poder auto-destrutivo do ser humano. Transformando o junk em punk os Ramones representaram isso escancaradamente durante um longo tempo. Através de um som extremamente urbano cantaram a juventude que queria estar sedada. Conscientemente? Não sei. Acredito somente que eles são a expressão de uma máxima que trago comigo hoje: o rock'n roll e a música pop, de modo geral, quando inseridas na lógica do mercado consumidor, não são capazes de mudar o mundo, mas conseguem se configurar em fotografias fantásticas das mudanças culturais do ambiente que os cercam. Talvez isso sirva também pra arte de modo geral. Vão aqui três vídeos, um da última música do último show dos caras em 6 de agosto de 1996 em Los Angeles, Ed Wedder do Pearl Jam acompanha Joey nos vocais, os outros dois são clips de duas músicas que eu adoro: "I wanna be sedated" e "I don't wanna grow up".


Mamãe ama é o meu revólver! O dos Beatles!




O dia 5 agosto marca o lançamento do célebre disco Revolver dos Beatles em 1966. O trabalho consolida o início da revolução interna que os, até então, garotos de Liverpool promoveram em sua obra. Após o também fantástico Rouber Soul, Revolver traz, pela primeira e única vez, três canções de George em um mesmo disco dos Beatles. Inaugura de forma concreta a influência das drogas, da psicodelia e da orientalidade no rock'n roll da banda mais famosa e influente de todos o tempos. Welcome to the 60's!
O disco traz:

Taxman (Harrison), vocais de George, música composta por ele em protesto aos impostos no Reino Unido;

Eleonor Rigby (Lennon/McCartney), balada fúnebre cantada por Paul acompanhado por um conjunto de cordas;

I'm only sleeping (Lennon/McCartney), vocal e violão de John com o famoso solo composto por George e depois tocado ao contrário;

Love you too (Harrison), gravada somente com George nos vocais e tocando instrumentos indianos;

Here, there and everywhere (Lennon/McCartney), uma das mais belas e famosas baladas de todos os tempos cantada por Paul com os vocais de Jonh ao fundo;

Yellow submarine (Lennon/McCartney), tema infantil cantado por Ringo e que mais tarde deu origem a um desenho animado estrelado pela banda;

She said she said (Lennon/McCartney), cantada por John, dizem as más línguas que foi um baseado, digo, baseada em sua segunda experiência com LSD;

Good day sunshine (Lennon/McCartney), é cantada por Paul e traz o quinto elemento George Martin ao piano de forma mais essencial que marcante, como uma participação deve ser, afinal o disco é dos Beatles;

And your bird can sing (Lennon/McCartney), vocal principal de John, a música traz um belo solo duplo de guitarra;

For no one (Lennon/McCartney), essa é uma das músicas que me faz arrepiar sempre que ouço, traz Paul nos vocais e a ilustre participação de Alan Civil tocando trompa, Alan foi músico integrante da Royal Philharmonic Orchestra e o primeiro músico estrangeiro a ser convidado para participar da Orquestra filamôrnica de Berlim. Pra quem gosta daquela história de que o Paul morreu e foi substituído por um sósia, o título original da canção era "What Did I Die?";

Doctor Robert (Lennon/McCartney), vocal principal de John a música fala de um tal médico que receitava "remédios" para te fazer ficar legal, se é que você me entende: "He helps you to understand. He does everything he can. If your down he'll pick you up. Take a drink from his special cup".

I want to tell you (Harrison), maravilhosamente cantada por George, a música demonstra o que acontece se você juntar durante algum tempo o blues e um músico inglês que visitou o Oriente.

Got to get you into my life (Lennon/McCartney), música cantada por Paul, traz novamente o quinto elemento George Martin, agora tocando órgão, e uma galera da pesada no naipe de metais, só músicos de jazz tarimbadíssimos: Eddy Thornton (trompete), Ian Hamer (trompete), Les Conlon (trompete), Alan Branscombe (sax tenor), Pete Coe (sax tenor).

Tomorrow never knows (Lennon/McCartney), psicodelia em seu frescor dos anos 60 na veia, Jonh nos vocais e pandeiro, Paul no baixo marcante e essencial, George novamente na cítara e na guitarra, Ringo em uma das melhores baterias de sua carreira, todos acompanhados do quinto elemento ao piano. Outro dia em uma festa ouvi uma pessoa dizer que existe uma vida antes e outra depois dessa música. Será que foi isso que o Skank pensou em "Supernova"?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

"PERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS"




Um amigo chegou para mim e disse "li seu texto no Blog, você acredita em Deus não é mesmo?", confesso que a pergunta me pegou de surpresa, descobri que, apesar de ter um pensamento bem elaborado sobre o assunto, não tinha uma resposta na ponta da língua, mesmo porque minha resposta está longe de ser um sim ou um não, está mais próxima de um não sei, que se encaixa no lema do Blog "Aonde vale mais o viajar que o destino" (inspirado na letra de "Esta Tarde" dos Paralamas do Sucesso), respondi um sim meio gaguejante e completei, ainda gaguejante, "de uma outra forma, mas não acho que seja o mais importante", ele emendou, num tom de brincadeira com um fundo de seriedade, " precisamos te salvar", retruquei "você não acredita?" e ele me respondeu um "não" bem firme.
Resolvi escrever este Post, para clarear minhas idéias e compartilhar, com quem interessar, minha visão sobre o assunto. Lembrei-me do livro de Rubem Alves "Perguntaram-me Se Acredito Em Deus" e resolvi tomar o título emprestado, mas, ao pesquisar um pouco mais, percebi que precisava primeiro falar um pouco mais de Rubem Alves, cujas idéias se aproximam bastante do que penso.
Para começar, é necessário esclarecer um pouco da trajetória de Rubem Alves, cujo status de autor pop, acaba gerando um preconceito em parte da intelectualidade. Ele se tornou bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano de Campinas em 1957, tornou-se pastor Presbiteriano e, em 1963, foi para Nova Iorque e se tornou Mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary, nos anos 60 se envolve com o movimento latino-americano de renovação da teologia, suas idéias liberais o colocam em choque com o protestantismo histórico e ele é denunciado como subversivo pela Igreja Presbiteriana, que o considera persona non grata, abandona a igreja e resolve retornar aos Estados Unidos, se torna Doutor em Filosofia (Ph.D.), pelo Princeton Theological Seminary. De volta ao Brasil se torna professor-adjunto na Faculdade de Educação da Unicamp e passa a focar seu trabalho na Educação. No início dos anos 80, torna-se psicanalista pela Sociedade Paulista de Psicanálise. Como a citada conversa com meu amigo caminhou pela Psicanálise, vale um parentesis, extraído da Wikipedia, sobre Rubem Alves e a Psicanálise: "Rubem Alves tem desenvolvido sua teoria e prática psicanalítica em torno da idéia de que o inconsciente é a fonte da arte e da beleza, rompendo com a tradição psicanalítica que descreve o inconsciente como um sub-universo, com um repertório de traumas, repressões e negações, juntamente com impulsos animais destrutivos. Alves defende uma atuação focada na visão de beleza da pessoa por ela mesma, a impulsionando a lutar contra o que a oprime e subjuga. Afirma ainda que a psicanálise deve se libertar de dogmatismos cientifizados e que "parte de nossa neurose é o desejo onipotente de ter os nossos bolsos cheios de verdades e certezas"."


Quanto ao livro, vou me limitar a reproduzir partes do depoimento que Rubem Alves deu à Folha de São Paulo, quando do lançamento em Maio de 2007:


...o livro "Perguntaram-me se Acredito em Deus", uma compilação de histórias protagonizadas por um certo Mestre Benjamin, um sábio que fala dos problemas e da natureza do mundo e da humanidade. A idéia de escrever o livro, conta Alves, surgiu de um encontro promovido pela Folha em que ele recebeu da platéia a pergunta que se tornou seu título.
Já na orelha, avisa: assumindo uma abordagem "antropofágica", o escritor diz ter "comido" vários textos sagrados e tirado deles o extrato do que ali narra. "Tenho formação protestante e há textos que ficaram em mim", diz Alves, doutor em teologia e filosofia. "Misturei passagens bíblicas à minha imaginação poética, e à poesia de escritores como Cecília Meireles, Walt Whitman, William Blake etc. Não respondo à questão colocada no título. Os leitores ficarão fisgados pela pergunta, mas não vão ter respostas, apenas poesia. Se respondesse, diria que não acredito nas caricaturas que as religiões fizeram de Deus." Rubem Alves ressalta ainda que a questão que importa não é se Ele existe ou não. E sim que a mera presença do nome "Deus" na civilização ocidental é um espinho cravado, que tem poder social e psicológico. "Quando o Papa visitou o campo de concentração de Treblinka, perguntou "onde estava Deus?", a mesma pergunta de um editorial do "New York Times" depois dos ataques de 11 de setembro. É incrível como somente o nome Dele já torna as pessoas estúpidas e elas perdem a capacidade de entender as tragédias do mundo", aponta o autor, assumindo também o caráter professoral de sua nova "contação" de histórias. "Nos meus livros anteriores, a dimensão do mistério já estava presente, mas não de maneira tão concentrada como aqui, com o cotidiano, o humor e a poesia. Como Deus perturba muito a maneira como as crianças, adolescentes, as pessoas em geral entendem a vida, acho que o livro tem sim um sentido educativo."
Isto posto, vamos ao que penso:


Tenho muita dificuldade em acreditar em "ismos", apesar de achar que gosto, futebol, religião, política e outras subjetividades mais, se discutem sim. O papel de colocar em discussão as experiências pessoais é fundamental para elaborar nosso viver, o problema é quando dogmas e verdades nos impedem de perceber e aceitar as experiências dos outros. Necessitamos de referências sim, mas elas têm que ser o meio, não o fim. Acho que a explicação, o modelo da ciência, para a existência é tão inocente e frágil quanto o da religião, acho, portanto, que uma resposta para o que poderíamos chamar de Deus ainda está muito longe do nosso entendimento, se é que algum dia vai estar próximo. O que acho é que a religião nos fornece um repertório de símbolos muito ricos que ficaram marginalizados à luz do positivismo. Não sou inocente a ponto de acreditar literalmente em um Deus que é um ser, à nossa imagem e semelhança, um velhinho barbudo, com poderes infinitos, que tudo sabe, tudo vê e tudo pode e que, por uma lógica que nos escapa, produz tantos castigos e sofrimentos, talvez para nos provar, para, após tanta penúria, se passarmos bem por todas as provas, nos levar à vida eterna. Mas também não sou inocente a ponto de ignorar que, se levar em conta tais afirmações, de uma forma mais poética, mais subjetiva, há muito de verdade nesta imagem. Acho que esse mistério, que permeia as relações humanas, e que é a fonte de toda a construção e destruição, sendo que uma é complementar da outra, é a fonte de inspiração para os primórdios das religiões, é mais ou menos o que pode ser nomeado Deus. Os símbolos foram a forma que nossos antepassados tiveram para descrever, elaborar e celebrar seus sentimentos e percepções da vida, de uma forma poética. É uma pena que estes símbolos, de tempos em tempos, são transformados em verdades e utilizados como forma de poder e dominação. Ainda bem que, de tempos em tempos, alguns rebeldes subvertem estas verdades. No livro de Rubem Alves, por exemplo, ele reconta algumas parábolas do Novo Testamento, à luz de uma visão mais contemporânea, e podemos perceber a força destas estórias, não uma força mágica, mas uma força de ampliar nossa percepção do mundo e das pessoas. Um exemplo, dado pelo Frei Cláudio, da Igreja do Carmo, que me fez compreender a diferença entre símbolo e dogma é o seguinte: se você deixar de se benzer antes de uma refeição, é claro que este ato, por si só, não vai mudar a forma como a comida vai ser processada em seu corpo, a benção não é uma energia mágica, que desce dos céus e torna o alimento melhor (abençoado) ou pior (amaldiçoado), mas, de vez em quando, é bom parar em frente ao prato e tentar perceber quantos seres, quantas relações, quantos movimentos, quanta vida, quanta morte, quanta alegria, quanto sofrimento, foram necessários para que um simples arroz, feijão e carne cheguem prontos à sua mesa, assim, quem sabe, aquele alimento sagrado e abençoado, por tudo isto, seja saboreado com mais gratidão e satisfaça melhor a sua fome ("você tem fome de quê?").

Quanto ao vídeo que ilustra o Post "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!"