quarta-feira, 23 de julho de 2008

EVOLUÇÃO - CORPOS GIRANDO PELO UNIVERSO


Este Post era para ser um comentário, em resposta ao comentário do Markim sobre o Post "Jung e a Busca Pela Inovação", mas estava ficando tão longo que resolvi colocá-lo como um novo Post.

Para iniciar gostaria de pontuar algumas questões.

A afirmação sobre evolução carece de uma definição mais clara. Para mim o ser humano é um ente muito complexo, com infinitos vetores, apontando para diversas direções. O que forma nossa personalidade não pode ser explicado somente em um âmbito, o material, o sentimental, o mental, por exemplo, assim, quando falamos de evolução, é necessário estar ciente de que falamos, em geral, apenas de alguns vetores, ser evoluído materialmente, tecnologicamente, não significa ser evoluído sentimentalmente, socialmente, culturalmente, assim, acredito que uma comunidade pode ser extremamente evoluída tecnologicamente e pouquíssimo evoluída artisticamente, por exemplo. Pode parecer bobagem, mas lidamos com estes conceitos o tempo todo, sem, às vezes, nos darmos conta. Trazendo para o âmbito individual, darei exemplos simples, uma pessoa com uma capacidade racional bastante elevada pode ser incapaz de tocar um instrumento musical, ou de contar uma estória e é muito comum criarmos pré conceitos de que uma pessoa bem fisicamente, está bem psicologicamente ou de que uma pessoa bem vestida e que tem bens materiais é mais competente no exercício de uma determinada profissão.

Como estes vetores são complexos e muitos deles não conseguimos explicar, somente sentir ou perceber, entramos em áreas aonde a crença e a fé passam a ter um papel muito importante, e não estou falando somente da fé religiosa, e é aí que muitas coisas se complicam, pois para sentir/perceber é necessário estar aberto a experiências, vivências, é necessário saber simbolizar e perceber símbolos. Se tentamos explicar e fundamentar os símbolos numa perspectiva racional, ficamos fechados, preconceituosos, fundamentalistas e perdemos o foco da vivência, que é o principal. Numa cultura que apostou muito na evolução racional, isto passa a ser uma marca muito contundente.

Em uma revista científica, vi um exemplo que ilustra nossa dificuldade em construir um modelo para nós mesmos. O artigo falava justamente da busca da ciência pela origem da mente e há um grupo de cientistas que acham esta busca improvável, pois, para eles, a mente se encontra em uma dimensão à qual não temos acesso, e exemplificam com a metáfora de uma máquina fotográfica, que gera imagens em duas dimensões, tentando gerar um modelo de si mesma, ela pode até gerar modelos bem próximos, com imagens em várias perspectivas, mas ela jamais conseguirá realmente ver a si mesma em três dimensões e só conseguirá modelos em duas dimensões.

Por isso tenho uma visão comedida em relação a alguns conceitos, como a reencarnação por exemplo. Acho que a possibilidade dela existir ou não é a mesma e chego a crer que, se não temos lembranças de vidas passadas, caso elas tenham existido, isto tem uma razão, talvez essa lembrança não seja o mais importante. Como a nossa alma, nossa personalidade, nossa mente, no sentido mais amplo, filosófico, não somente religioso, foi formada, não é o mais importante, mas quais são as necessidades dela, o que fazemos com ela, o que estamos buscando e como a utilizamos para construir algo, isto sim importa. Se ficarmos discutindo se Jesus Cristo transformou água em vinho ou não, andou ou não sobre as águas, multiplicou ou não os pães e os peixes, ressucitou fisicamente ou não, perdemos a mensagem de amor e despreendimento dele, que é, na verdade, o que faz ele estar presente e ser tão instigante até hoje.

Para mim, estamos longe de conseguir perceber o sentido desta vida, se é que ele existe. A falta deste sentido pode ser destrutiva, mas pode ser também altamente construtiva. Podemos ser mais despreendidos, mais generosos, mais fraternos, partilhar mais, construir relações de melhor qualidade e, no final das contas, construir nosso próprio sentido e viver mais e melhor, não só em quantidade, mas em qualidade.

Fácil né? Nenão! Romper as amarras da nossa alma é tarefa das mais difíceis e diria até das mais sofridas, principalmente porque falamos de infinitas sutilezas, o que escrevo aqui pode ser o oposto do que faço quando estou dirigindo ou discutindo futebol. Nossos vetores encontram resistências ou ecos nos vetores dos outros e, o que já era complicado, imaginem.

Mas dizem que "vale mais o viajar do que o destino".


Este Post foi escrito ao som de muita música boa, tocada aleatoriamente, vocês podem imaginar as suas.

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