segunda-feira, 15 de março de 2010

Cantiga de Longe

Alou pessoas!

Numa conversa bêbada o Cris me convidou a colaborar com ele no Blog. Eu não botei fé não, achei que ele estava bêbado demais para se lembrar do que estava falando. Mas como era verdade mesmo e ele me mandou realmente a autorização para escrever vou começar com um texto que eu já publiquei no site do Graveola (www.graveola.com.br), que é uma resenha sobre um disco. Isso porque hoje é meu aniversário e eu não vou ficar queimando fosfato pra pensar um texto novo.


Cantiga de Longe

Passei, já há alguns meses, uma noite sozinho na rodoviária de Recife, esperando um ônibus para Maceió. Na verdade, não estava exatamente sozinho: meu Ipod e uma edição do Grande Sertão foram dois ótimos companheiros nessa viagem. E minha seleção de músicas incluía vários nomes, entre eles o alagoano Hermeto Pascoal, os americanos Kurt Rosenwinkel, John Coltrane e Brad Mehldau, meus amigos mineiros do Ramo e do Graveola e um pouco de Debussy e Bach. Mas um disco me roubou, dentre todos esses, a atenção e foi praticamente o único que eu ouvi durante toda o resto da viagem: Cantiga de Longe, do carioca Edu Lobo.
Já era um disco mais que conhecido por mim, mas nem por isso ele deixa de me surpreender a cada audição. A qualidade das composições e dos arranjos é altíssima, o Edu está cantando (e tocando) muito bem e todos os músicos tocando muito! Vai a ficha técnica: A produção é do Aloysio de Oliveira, os arranjos são do Hermeto (que toca flauta e piano) e do Edu Lobo (que toca violão) e, além deles, temos o Airto Moreira na percussão, o Cláudio Sion na bateria e o José Marino no contrabaixo. Esse disco foi gravado no mesmo ano do “Sérgio Mendes presents Lobo” e é bom dizer algo aqui: nenhum dos dois discos tem o Quarteto Novo completo, apesar dessa informação circular muito por aí. Em ambos temos a presença do Hermeto e do Airto, mas é só, Theo de Barros e Heraldo do Monte não participam desses discos, ainda mais porque o Quarteto se dissolveu em 69. O Cantiga de Longe foi gravado em Los Angeles em 1970 e lançado pela Elenco. Depois foi remasterizado e relançado em CD em 2003 pela Mercury.

CANTIGA DE LONGE FAIXA A FAIXA:

01-Casa Forte (Edu Lobo):

Casa Forte é um bairro de Recife, cidade onde Edu passou grande parte de sua infância na casa de seus tios. A presença de Pernambuco nesse disco é marcante em quase todas as faixas, desde os títulos e temas das letras até a presença de um famoso frevo pernambucano no repertório.
Nessa faixa específica só temos Edu, Hermeto e Airto, mas, acreditem, é mais do que o suficiente. A percussão e o violão conduzem toda a música enquanto as vozes (ambas gravadas por Edu) e a flauta de Hermeto dialogam. Um clássico do repertório instrumental já regravado inúmeras vezes (aqui com a Flora Purim:http://www.youtube.com/watch?v=JN9ZsDIasZU).

02-Frevo de Itamaracá (Edu Lobo) / Come e Dorme (Nelson Ferreira)

http://www.youtube.com/watch?v=9WPhQIOEXlo

A faixa começa com o clássico frevo Come e Dorme, de Nelson Ferreira, (http://www.fundaj.gov.br/docs/nelson/) importante compositor de frevos do Recife num solo incrível de Hermeto e depois temos o frevo de Edu, que conta da praia de Itamaracá, que fica próxima a Recife e tem certa fama por ser lá a casa da cirandeira Lia de Itamaracá. Um frevo tocado a maneira de João Gilberto, bem suave mas mesmo assim forte e com “pressão”.

03-Mariana, Mariana (Edu Lobo/Ruy Guerra)

Uma balada linda, de harmonia sofisticada e um arranjo onde o violão e o piano costuram uma malha fina e sofisticada para Edu cantar uma triste história de uma saudade.

04-Zum-Zum (Fernando Lobo/Paulo Soledade)

Essa marcha, do pai de Edu Lobo e de Paulo Soledade (http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/ver/paulo-soledade), é levada ao extremo da simplicidade nessa interpretação, onde só temos o violão e a percussão e um canto suave, joaogilbertiano. Gravada originalmente por Dalva de Oliveira (http://umquetenha.org/uqt/?p=401)

05-Águaverde (Edu Lobo)

Tema instrumental (com vocalizes) onde Airto Moreira mostra porquê é um dos mais reconhecidos percussionistas do mundo. Temos a participação da cantora Wanda Sá.

06- Cantiga de Longe (Edu Lobo)

Samba com uma pegada jazz-rock, que lembra um pouco uma versão acústica do trabalho que Flora Purim e Airto faziam nessa época e anuncia algumas outras canções de Edu, como Lero-Lero (http://www.youtube.com/watch?v=Vz73zZriafQ). Cláudio Sion e Hermeto se destacam.

07-Feira de Santarém ( Edu Lobo-Gianfrancesco Guarnieri)

O ator Gianfrancesco Guarnieri era parceiro constante de Edu, inclusive no clássico Upa Neguinho (http://www.youtube.com/watch?v=BNG7FWucLFw). Nesse baião Edu Lobo canta sobre a famosa feira agrícola que acontece em Santarém, no Pará, desde 1936. Na letra, vários produtos típicos brasileiros são citados, além de expressões também típicas. Uma canção que tenta fazer um retrato de uma parte do Brasil e seus costumes.

08-Zanzibar (Edu Lobo)

Outro clássico tema instrumental, um baião com uma pegada bem Rock’n Roll no início. Nesse tema Hermeto Pascoal “faz a festa” com Airto. O violão de Edu também merece destaque.

09-Marta e Romão (Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri)

Linda canção que fez parte da trilha da peça “Marta Saré”, de onde veio também a famosa “Memórias de Marta Saré” (http://www.youtube.com/watch?v=_NxhdKbuprE). Precisa falar sobre o Hermeto ainda?

10-Rancho de Ano Novo (Edu Lobo/Capinam)

Marcha Rancho em que Capinam descreve o carnaval em Recife e seus personagens. Fala da “pastora Mariana”, provavelmente a mesma da canção “Mariana, Mariana”. Atenção para o som de lancha que o Hermeto faz na flauta.

11-Cidade Nova (Edu Lobo/Ronaldo Bastos)

Essa é uma das que acredito ser uma das mais belas canções de Edu Lobo, ao lado do Canto Triste (http://www.youtube.com/watch?v=Odcla717bWw) e Beatriz. Só a mudança de acordes que acontece logo no início, em “…te encontrar”, de Mi bemol para Sol maior já vale a canção. Que depois só melhora.


Esse Disco não é dos mais conhecidos de Edu Lobo, mas é uma pérola que deve ser descoberta por cada um que gosta da melhor música brasileira. Em primeiro lugar as composições representam uma fatia do melhor que aconteceu na nossa música nas décadas de 60 e 70 e, além disso, temos alguns dos melhores músicos tocando esses arranjos que, apesar de bem simples, são muito ricos.

É isso! Baixem o disco aqui:
http://umquetenha.org/uqt/?p=243
e reparem que a capa está errada, colocando o Quarteto Novo como participante do disco também, o que não é verdade.

João Antunes

3 comentários:

Cristiano Abdanur disse...

Pra você ver que eu não estava tão bêbado quanto você imaginava. Valeu pela dica! Vou curtir o disco e depois a gente conversa. Feliz aniversário mais uma vez.
Abraço

Lu Torquato disse...

Estávamos sim...todos muito, muito bêbados. Feliz aniversário, João! E contribua com mais dicas de discos por aqui...só não vale ter que ficar indo pra Olinda sempre pra dar conta de escutar um disco inteiro...Beijoca, nêgo.

Flor que Fala disse...

Adorei a dica!
Disco baixado e escutado!

Myspace linkado no blog também!
Parabens pelo talento!

Mari