terça-feira, 26 de maio de 2009

RENDIÇÃO



Você sentada, eu ao lado,

Você sem palavras, eu calado,

Ambos pensando,

O silêncio imperando.


Os dois querendo falar,

Mas tendo medo de falhar,

O tempo passando,

O silêncio continuando.


Um olha para o chão,

Pensando uma solução.

O outro olha a lua,

E o silêncio continua.


De repente, um assunto qualquer, (tá frio né?)

Mas o papo não se acomoda.

As palavras voltam a morrer,

O silêncio agora incomoda.


Cansamos de procurar assuntos,

Ao silêncio nos rendemos,

Entregues aos pensamentos,

Olhos nos olhos, nos compreendemos.


O silêncio agora é ideal,

O entendimento natural,

Para que palavras? Delas não precisamos,

Os olhos, portas da alma, é o que desejávamos.


05/09/83

PALAVRA (EN)CANTADA

O documentário "Palavra (En)cantada" de Helena Solberg é uma ótima dica para quem gosta de música brasileira e, principalmente, das letras de músicas brasileiras.

O assunto fica longe de ser esgotado em um documentário de apenas uma hora e meia, mas, com depoimentos bem descontraídos, que vão de Chico Buarque a B Negão, passando por Adriana Calcanhotto, Antônio Cícero, Arnaldo Antunes, Ferréz, Jorge Mautner, José Celso Martinez Correa, José Miguel Wisnik, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Lenine, Luiz Tatit, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Tom Zé e Zélia Duncan e cenas antológicas de outros importantes artistas de nossa música, a diretora consegue construir um painel bem rico da nossa música, sem ser tendencioso para algum estilo, mostrando a riquesa de nossa língua e como foi construída uma tradição da palavra cantada em nosso país.

O documentário vai além da mera discussão se as letras de música são poesia ou não, passa por este tema, mas, ao final, é possível concluir que, mesmo que não consideremos as letras de música poesia, elas têm um papel artístico próprio, construindo, com a sonoridade particular das palavras na língua portuguesa, uma forma de expressão muito rica, que influenciou várias gerações e construiu uma dimensão cultural própria, em vários estilos musicais.

Para mim, este documentário teve o papel de despertar mais a curiosidade sobre o tema e me ajudou a compreender o encanto que a palavra musicada sempre me causou.

Imperdível para quem se interessa pelo assunto.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Que é loucura?


Que é loucura: ser cavaleiro andante
ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, acordado, sonha doidamente?
O que, mesmo vendado,
vê o real e segue o sonho
de um doido pelas bruxas embruxado?


(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 19 de maio de 2009

THE WHITE STRIPES - ROCK'N ROLL EM LISTRAS BRANCAS, VERMELHAS E PRETAS


E o Rock'n Roll? Morreu ou não morreu?
Para alguns, mais exigentes, aquela música que embalou a rebeldia, que teve o seu auge no final dos anos 60, e que mudou para sempre o mundo, mesmo que o sonho não tenha se realizado por completo, não existe mais. Para outros, mais desatentos, qualquer guitarra distorcida e rápida pode ser traduzida como Rock'n Roll.
Na minha opinião, nenhum dos dois está totalmente certo ou errado. Quando alguns garotos brancos se apaixonaram pelo som negro, tocado nos guetos, e que falava de temas proibidos nas tradicionais famílias puritanas, como sexo e drogas, uma revolução se iniciava. Hoje em dia não temos noção do conflito de gerações que aquela música sensual e libidinosa gerou. Em nossos dias podemos encontrar pais se vestindo e tendo atitudes mais irreverentes do que os próprios filhos, mas, se olhamos entrevistas e vídeos da época, é possível observar o abismo que separou aquelas gerações.
Mas, como o mercado transforma tudo em produto de consumo, logo a rebeldia passou a ser um produto a venda nas melhores lojas do ramo e, hoje em dia, é muito difícil separar o joio do trigo.
Porém, de tempos em tempos, a angústia da juventude consegue ser traduzida por algum grupo de jovens inconformados.
Em tempos de globalização que, antagonicamente, cria tribos cada vez mais diversas, está cada vez mais difícil encontrar traduções mais unanimes desta angústia e o mercado está cada vez mais voraz. Outro dia, só para ilustrar, vi uma capa de revista de moda, que estampava a manchete: "Grunge Com Glamour", fiquei boquiaberto e sem palavras com tamanha incoerência.
A música também mudou muito, as diversas influências e contribuições de tantas culturas fez com que o Blues e o Country, principais ingredientes do Rock'n Roll do início dos tempos, ficassem tão diluídos que, em alguns momentos, quase não é possível reconhecê-los.
Vou render uma homenagem hoje a uma dupla que alimenta o aparelho de respiração artificial do Rock'n Roll.
A primeira vez que tive contato com o White Stripes, de Jack White e Meg White, foi através do vídeo de "Jolene", não gostei de primeira, achei o guitarrista meio afetado demais e o som e atitude me soaram meio "modernosos". Depois, quando eles vieram ao Brasil e tocaram em Manaus, achei interessante a entrevista dos dois (na verdade só o Jack White falava), percebi uma ironia, que sempre me atraiu no Blues e no Rock, e que, há muito tempo não encontrava. O jeito excêntrico dos dois também me atraiu. Era um excentrismo que, ao invés de afastar, como o praticado em nos dias atuais, atraía e fazia um chamado a um olhar diferente para o mundo, como uma brincadeira de criança. Logo em seguida, ao entrar na Internet, ví o chamado para a audição do, então recém lançado, "Icky Thump" da dupla, fui conferir o trabalho e, atraído pelo título da música, ouvi "Catch Hell Blues", tomei um soco na cara e, atordoado, ouvi todo o restante. Fiquei impressionado com a sonoridade, que me lembrou muito trabalhos dos anos 70, como Led Zeppelin. A guitarra de Jack White, um virtuose no bom sentido, logo me seduziu, e saí em busca de mais informações. Descobri um garoto de Detroit que se apaixonou pelo Blues e pelo Rock'n Roll e logo se tornou um virtuose, com sua maneira de tocar e sua presença de palco. Jack encontrou em Meg um suporte perfeito para sua maneira de tocar e se apresentar. Eles chegaram a se casar, mas, aparentemente, só o casamento musical é que perdurou, com algumas interrupções, Jack, por exemplo, tem um trabalho paralelo com o grupo "Raconteurs".
As histórias são muitas e talvez mereçam um novo Post, por enquanto, para quem ficou curioso, recomendo uma passagem no site da dupla (http://www.whitestripes.com/) que é muito criativo e cheio de simbologias. No site é possível assistir a todos os vídeos oficiais, extremamente criativos, da dupla. Para finalizar, por hoje, fiquem com uma amostra de "Catch Hell Blues" ao vivo (apesar da legenda informar "300 M.P.H. Torrential Outpour Blues", outra música).

Moinho de pensamentos livres intangíveis - Pra quem o é

Só reconhece o perfeito aquele para quem o é.
Como um certo brilho que cintila apenas para determinada íris que o vislumbrou.
Como só se conhece o cheiro aquele que já se enumbriou em tal aroma.
Contos dispersos decifrados e codificados por repetidas vezes, na empoeirada estrada do tempo. Porém, vindos de quem?
Qual foi a do aquele que esteve ali?A do aquele que pirou pela primeira das primeiras? Que sentiu o tremor nos próprios tímpanos?

Nunca mais será?


quarta-feira, 13 de maio de 2009

Los Porongas


Há cerca de dois anos fui a uma festa do programa alto-falante. No programa, o show do Ricardo Koctus (baixista do Pato Fu) e de uma banda de abertura de estranho nome. Fui pra assistir ao Ricardo, mas o show dos caras me ganhou. Um instrumental conciso e consistente sustentando as belas letras cantadas pelo vocal ("O tormento é sempre a solução/Me atormenta a calma e a mansidão"). Confesso que não consegui assistir ao show do Ricardo Koctus, comprei logo o disco dos caras e desde então virei fã. A banda vem do Acre, o que por si só já é interessante, é composta por Diogo Soares (Voz), João Eduardo (Guitarra), Márcio Magrão (Baixo) e Jorge Anzol (Bateria). Chama a atenção os arranjos de guitarra muito criativos e leves ou pesados de acordo com a exigência do momento da música, além das letras poéticas e sonoras como há muito não via em uma banda de rock nacional. Indico sem restrição. Rock alternativo de primeira qualidade. Pode baixar sem dó!

Aqui a vai o link para baixar o primeiro e único disco dos caras, além do single lançado pela trama virtual 'Retrato calado':



http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=66346

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Moinho de pensamentos livres intangíveis - Sobre aquele que tudo podia - Parte 02


Após semanas embriagantes, aquele que tudo podia chega em sua nova casa que parecia com tudo que sempre desejou de uma moradia.

Uma porta deslumbrante se apresenta em sua frente, deslumbrado leva a mão à maçaneta, porém, antes mesmo de alcançá-la, a porta se abre e de trás dela aparece uma linda mulher que o recepciona com o mais simpático e delicioso sorriso.

Após se satisfazer de todas as formas possíveis e imagináveis, resolveu se encostar em seu perfeito sofá e repousar. No primeiro encostar de pálpebras, caiu em sono profundo, entretanto não sonhou, apenas um sono escuro que se prolongou até o primeiro desejo de despertar.

Acordou e ainda sonolento lhe veio à mente a imagem daquele velho homem enrugado, do qual tinha herdado seu novo e precioso dom. Desejou entender porque alguém que tudo podia estaria tão velho e enrugado, porque não desejou ficar mais jovem, mais bonito. Demorou um pouco mais de instantes, mas seu desejo se realizou.

Caiu em depressão profunda pelo peso do saber.

Saber que todos os desejos que se realizam alteram de alguma forma o sujeito que os desejou, até o momento em que o mesmo não distingue mais aquilo que o identificava.

Saber que quanto mais desejos realizados acumular, mais sua personalidade se fragmentará, até o momento em que nada mais vai desejar e, consequentemente nada mais o satisfará.

Saber que o tudo poder é um fardo que nem mesmo o mais sábio e habilidoso mortal pode lidar.


domingo, 10 de maio de 2009

VIDA (para além da cortina...)


Eles estão sentados ali, naquela sala.

A sala é ampla, difícil de definir, pois não se sabe se a amplitude vem do tempo, que a fez maior do que ela realmente é, ou se é realmente ampla. Até o cheiro é de tempo, mas de um tempo para além do movimento dos ponteiros de um relógio, talvez porque as narinas já se acostumaram. A claridade era suficiente para aquelas pupilas dilatadas, o bastante para perceber o vermelho da cortina em frente, vermelho que, de tão brilhante, ofuscava as manchas verdes do mofo. Os corpos apresentavam uma sensação que nossa pobre literatura não é capaz de descrever, uma sensação entre o cansaço de desejar que nada mais existisse e fosse possível o descanso eterno, ou uma vontade louca de se erguer e descobrir tudo o que poderia estar por detrás daquela cortina. Mas o que se descortinava era apenas desejo, no fundo eles previam, sem enxergar, a desordem.

Eles se levantaram e começaram a caminhar rumo à cortina, sem saber, ao certo, de onde vinha a iniciativa.

Ao abrir a cortina, lá estava a desordem pressentida, mas, pela lei da inércia, subiram os degraus e começaram a arrumar aquela balbúrdia, sem ordenar seus atos.

De repente ela sentiu aquela estranha união entre os dois se quebrar e voltou ao centro da sala, movida pela mesma força que a tinha levado para junto da cortina, olhou em volta e se fixou em uma porta que, a princípio, era somente mais uma peça da decoração, caminhou em direção a ela e, movida apenas por impulso, colocou a mão na maçaneta e, instantaneamente, a porta já estava aberta.

Uma claridade atômica invadiu seu mundo e, durante alguns segundos, que duraram uma eternidade, seus olhos sentiram dor.

Em seguida, ela começou a perceber aquele ruído, que despertava em sua memória imagens de festas, conversas, movimento, desordem, diferente daquela desordem pressentida anteriormente.

O cheiro era de um odor tão familiar, que ela não acreditava o quanto, naquele momento, ele pudesse se apresentar tão peculiar.

Um vento e um calor de, provavelmente, início de primavera, pelo menos era o que ela queria acreditar, invadiu seu corpo.

Ela viu aquela correnteza urbana passar à sua frente e pulou de cabeça, na esperança de algum mar, deixando às suas costas a porta aberta, para que a inundação invadisse aquela sala, levando cortinas e quebrando janelas.

Ele? Continuava a sua arrumação insana, pisando em insetos, sem perceber, ou pior, sem entender o que se passava.

Este texto foi encontrado entre meus guardados, datado de 28/05. O ano? Não sei, provavelmente final dos 80, início dos 90.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Extra! Extra! Pato Fu! Muito legal!



Está cada vez mais difícil a sobrevivência no mercado musical. No meio da infinidade de bandas, da incerteza com relação às estratégias de promoção da arte, do impacto do mp3 e da pirataria e da falta de criatividade que parece rondar os músicos hoje em dia, no momento atual, além de talento, é necessário ter boas ideias. O Pato Fu tem mostrado ter as duas coisas. Prova disso é o lançamento dessa semana: o ótimo 'Extra! Extra!'. Utilizo o texto de divulgação do newsletter para explicar o que é:

"É o conteúdo inteiro de um DVD, disponibilizado de graça. São mais de 150 minutos de documentários de turnê, versões alternativas das músicas do Daqui Pro Futuro, videoclipes, "Música de Bolso" em episódios inéditos e muito mais. Basicamente é um DVD só de faixas bônus, sem conteúdo principal... colocado online! Há também a opção pra quem quiser baixar (também de graça) tudo em seu computador ou mesmo comprar o DVD "físico" pra assistir em alta definição. O DVD será vendido somente em nosso site e na lojinha de shows, ou seja, é um genuíno ítem de colecionador."

Muito legal mesmo, tanto os videoclipes, bem como todos os vídeos, ambos muito simples quando o quesito é investimento e equipamento e, por outro lado, muito complexos na concepção artística.

Recomendo todo o trabalho, mas especificamente as sessões lições da estrada e fake demos. Você vai ter a oportunidade de ver o punkmetalfloydrose John tocando piano e o batera tocando violão e curtir a sempre simpática Fernandinha em momentos intimistas.

É muito bom ser fã do Pato Fu! Mais uma aulinha pra quem tem banda.

link:
http://www.patofu.com.br/extra/

terça-feira, 5 de maio de 2009

FAZER 30 ANOS


Este post estou devendo ao meu grande amigo Cristiano, desde Fevereiro, quando ele fez 30 anos.

Andando com ele, tenho conhecido uma turma por volta dos trinta, e me lembrei deste texto, que recebi a uns doze anos atrás.

"FAZER TRINTA ANOS"

Affonso Romano de Sant'anna

Quatro pessoas, num mesmo dia, me dizem que vão fazer 30 anos. E me anunciam isto com uma certa gravidade. Nenhuma está dizendo: vou tomar um sorvete na esquina, ou: vou ali comprar um jornal. Na verdade estão proclamando: vou fazer 30 anos e, por favor, prestem atenção, quero cumplicidade, porque estou no limiar de alguma coisa grave.

Antes dos 30 as coisas são diferentes. Claro que há algumas datas significativas, mas fazer 7, 14, 18 ou 21 é ir numa escalada montanha acima, enquanto fazer 30 anos é chegar no primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar.

Fazer 40, 50 ou 60 é um outro ritual, uma outra crônica, e um dia eu chego lá. Mas fazer 30 anos é mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem faça 30 anos aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar os 30 anos. Fazer 30 anos é coisa fina, é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas. Fazer 30 anos, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada.

Até os 30, me dizia um amigo, a gente vai emitindo promissórias. A partir daí é hora de começar a pagar. Mas também se poderia dizer: até essa idade fez-se o aprendizado básico. Cumpriu-se o longo ciclo escolar, que parecia interminável, já se foi do primário ao doutorado. A profissão já deve ter sido escolhida. Já se teve a primeira mesa de trabalho, escritório ou negócio. Já se casou a primeira vez, já se teve o primeiro filho. A vida já se inaugurou em fraldas, fotos, festas, viagens, todo tipo de viagens, até das drogas já retornou quem tinha que retornar.

Quando alguém faz 30 anos, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para a dos 30 saltitantemente. Fazer 30 anos é cair numa epifania. Fazer 30 anos é como ir à Europa pela primeira vez. Fazer 30 anos é como o mineiro vê pela primeira vez o mar.

Um dia eu fiz 30 anos. Estava ali no estrangeiro, estranho em toda a estranheza do ser, à beira-mar, na Califórnia. Era um homem e seus trinta anos. Mais que isto: um homem e seus trinta amos. Um homem e seus trinta corpos, como os anéis de um tronco, cheio de eus e nós, arborizado, arborizando, ao sol e a sós.

Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.

Mas fazer 30 anos é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo é mister de grande responsabilidade. É descobrir outra dimensão além dos dedos da mão. É como se algo mais denso se tivesse criado sob a couraça da casca. Algo, no entanto, mais tênue que uma membrana. Algo como um centro, às vezes móvel, é verdade, mas um centro de dor colorido. Algo mais que uma nebulosa, algo assim pulsante que se entreabrisse em sementes.

Aos 30 já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que um tempo em nós destila, que no tempo nos deslocamos, que no tempo a gente se dilui e se dilema. Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer.

Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.

Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.
(13.10.85)
O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 36.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Instiga



Salve! Salve! Saudações celestes!


O outono chegou bem azul! Espero que também seja cinco estrelas.


Inicio o post lamentando a ausência dos meus companheiros essa semana. Cadê a continuação da estória Fa? Faz mal não a gente vai tocando daqui.


Esse post na verdade é um complemento do anterior. Nos comentários, uma de nossas leitoras contribuiu com a indicação de uma banda de nome instigante. Fui lá conferir o myspace dos caras e gostei do que vi.


O Instiga é um trio de bons músicos que fazem um rock simples e bem humorado. Bateria precisa e floreada, um baixo faceiro e um sonzinho de strato muito bem explorado, além de vocais divertidos é claro. Minhas faixas preferidas do trabalho batizado como 'Tenho uma banda' foram Tem uma banda, Heitor e Ana, Nerds (sem dúvida a que mais gostei; no site tem vídeo da banda tocando ela ao vivo), Carta de demissão (demais!) e Aquela da cachorrinha (música que virou clip, também disponível no site). Em síntese um disco de rock, bem gravado e paulista na essência, não sei dizer bem porque, algo meio mutante, pelo menos no humor, sei lá!


Fiquei decepcionado apenas com alguma coisa da gravação que impede que entendamos as letras. Já ouvi o disco uma porção de vezes e só agora consigo entender algumas letras na íntegra. Penso também que 17 músicas é muita coisa, acaba deixando o disco um pouco cansativo, mas entre mortos e feridos fica uma impressão muito boa e mais um disco em meu ipod. Elogio também vai para o trabalho de produção da galera. O site e o myspace são bem legais, conseguiram dar uma identidade para a banda. Pra quem está nessa vida de ter banda vale a pena visitar pra dar uma sacada.


para baixar o disco gratuitamente vai o link disponível no myspace e no site do instiga:
http://www.instiga.com/tenhoumabanda/

o endereço do myspace que vale a pena ser visitado pelo clip e pelos vídeos ao vivo (é sempre bom ver uma banda mandando ver pra saber de qual é):
http://www.myspace.com/instiga