quarta-feira, 22 de abril de 2009

TERRA ESTRANGEIRA

Venho retomar um assunto levantado por nosso amigo Afonso, no post "Cinema Brasileiro: ESTÔMAGO", em outubro de 2008. Naquela oportunidade ele nos convidava a comentar sobre a nova fase do cinema nacional, indicando filmes que nos tenham chamado a atenção.
Pois tenho a acrescentar que, para mim, a grande virada do cinema nacional, ocorreu por intermédio de uma nova geração de cineastas, que trouxeram uma nova linguagem, talvez mais "holywoodiana" sim, talvez herdeira de uma linguagem publicitária, mas, com certeza, com uma narrativa mais envolvente, contando estórias que nos prendem e emocionam profundamente.
Adoro cinema, descobri que adoro ouvir e ver estórias, mesmo as ruins, sou daqueles que assiste a qualquer filme até o fim, gosto dos chamados filmes de arte, gosto também dos "Blockbuster's", mas, sobretudo, gosto de filmes densos, alguns que a maioria acharia chato e entediante, porém, devo confessar, tinha pouco estômago para o cinema nacional "intelectualóide pós Cinema Novo". Mesmo Glauber Rocha, ao qual fui apresentado muito novo por um grande amigo, não consegui muito deglutir, mas guardo um grande respeito a este ícone do cinema nacional, que criou uma linguagem própria e foi reconhecido mundo afora, mas a turma que se julgava herdeira desta linguagem, talvez por conveniência, nunca foi muito bem digerida por mim. É inegável que foram produzidas algumas boas obras, mas, de toda a forma, eram filmes que exigiam um esforço extra para serem mastigados.
Respeito a Carla Camurati e seu "Carlota Joaquina", que abriu as portas da distribuição independente, e ajudou na ressurreição do cinema nacional, em um momento em que ele dava sinais de morte cerebral e corporal, mas acho que o grande responsável por toda uma mudança, em termos de qualidade e linguagem, foi Walter Salles, que, na minha opinião, não é tão reconhecido quanto merece, principalmente pelos brasileiros.
Quando vi "A Grande Arte", baseado em um livro de Rubem Fonseca, que também escreveu o roteiro, já percebi que algo começava a mudar no cinema nacional, finalmente uma nova linguagem estava sendo proposta. O filme não é bom, mas já propunha uma nova forma de contar uma estória cinematográfica, pelo menos em terras tupiniquins. Quando assisti, alguns anos mais tarde, ao "Terra Estrangeira", antes do fabuloso "Central do Brasil", ai sim me apaixonei e percebi que um novo cinema nacional estava nacendo.
Por isso, na minha modesta opinião, "Terra Estrangeira" é um dos filmes mais importantes da história do cinema nacional e, sem dúvida, o mais importante desta recente fase produtiva.

3 comentários:

Afonso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Afonso disse...

Pois é, acabamos deixando este assunto um pouco de lado. Realmente a partir dos anos 90, acho que não se pode atribuir a uma só pessoa esta virada, o cinema nacional passou a ser menos folclórico e caricatural conseguindo alcançar uma linguagem mais universal transformando-se numa fabrica de talentos. Acho que o povo brasileiro ainda está por descobrir que aqui é um dos maiores celeiros cinematográficos da contemporaneidade. Aquele abraço!

Júlio Costa disse...

Claro que não dá para atribuir a uma só pessoa tamanha virada, mas insisto que o Walter Salles deveria ser mais homenageado e reconhecido. Me lembro do que o Tom Jobim disse uma vez, que no Brasil sucesso é ofensa pessoal, no caso do Walter Salles acho que rola algo do tipo, não sei porque torcem tanto o nariz para este cara, que já provou, com seu trabalho, o enorme talento que tem, independente de ser rico de berço, o que não garante talento, apesar de certamente facilitar o acesso, mas ele deveria ter vergonha disso e não tentar fazer um trabalho de qualidade, para não ofender ninguém? A geração atual do cinema brasileiro deve muito a ele sim, que abriu portas e enfrentou os antigos "donos" do cinema brasileiro que queriam nos empurrar a idéia de que um filme para ser "inteligente" não poderia ter uma estória bem contada e envolvente. Se hoje podemos ter a auto estima alta e falar que o Brasil tem um cinema de muita qualidade, é necessário render uma homenagem a Walter Salles.
Abraço!