Porque uma pessoa assiste as corridas de Fórmula 1? Pelo fascínio pelo desenvolvimento da tecnologia? Pela competitividade? Pelo desfile das lindas mulheres que rodeiam as provas? Porque é fã do Galvão Bueno? Pelo estilo de vida dos vinte playboys batendo pega na pista? Porque seu pai, seus tios e todos à sua volta assistiam quando essa pessoa era uma criança?
Bom, acho que por todos esses motivos. No entanto, Nelson Piquet (o pai) deu a dica da pitada que deve ser acrescentada ao rol citado acima: pela possibilidade de alguém se estrepar.
Quando sofreu um terrível acidente na Fórmula Indy, Piquet foi indagado sobre o que deveria ser feito para as provas serem mais seguras. Simplesmente respondeu, com a irreverência que ainda lhe é peculiar: "Meu irmão, os caras estão correndo a 300 quilômetros por hora. Como isso pode ser seguro? As pessoas só vão lá, pagam ingressos, compram produtos, porque sabem que alguma coisa pode acontecer."
Concordo com ele. Desafiar a morte é o principal atributo desses homens de macacão. Quando um acidente como o do Felipe acontece, fica claro o caráter globo da morte da coisa e a nossa fixação pelo trágico.
Estimo melhoras ao Felipe Massa.
p.s.: sempre torci pro Senna. Aprendi a admirar o Piquet depois de velho.
Comprei ingressos para o show do Caetano na próxima sexta. Nunca fui a um show dele, embora tivesse esse desejo, sempre acontecia uma constelação de eventos fortuitos que me impediam.
Bom, ainda não havia ouvido seus últimos trabalhos com cuidado, só de tabela.
Fiquei sabendo, há mais tempo, que o novo Caetano era rock e já vinha percebendo a frequência de comentários sobre seus trabalhos em espaços até então não muito interessados nele. O sítio do programa altofalante, reduto do rock alternativo, chegou a incluir o lançamento do novo disco do baiano como um dos mais esperados do ano.
Foi sob a influência da espectativa criada por esse "rêbu" que escutei numa sentada seus dois novos álbuns: Cê e Zii e Zie.
Pra minha surpresa, não é que os discos são do Caetano mesmo, digo, o mesmo Caetano, aquele que se arrisca, mas que já tem tempo suficiente de carreira pra fazer as coisas em cima de fórmulas que ele conhece e se dá bem com elas e, porque não dizer, constituem o seu estilo, a sua forma de ser como artista.
É fato que existe uma banda. Quando digo uma banda, falo de um padrão de som definido. É certo que é uma banda de rock, baixo, guitarra e bateria, mas não criou pra mim nenhum efeito radical ou de quebra. Nada revolucionário. Fiquei com a impressão de que tem muita gente por aí criticando demais ou elogiando demais a partir da fala do Caetano, e dos outros que falam dele, de que ele está fazendo rock. Ele está sendo o Caetano. Talentoso como sempre e criando trabalhos originais mesmo depois de tanto tempo na estrada.
Mais uma coisa sobre a banda e um padrão definido. Sempre achei que faltava isso aos músicos nacionais. Tenho a impressão que a maioria dos mestres da MPB, com algumas exceções, soam sempre como crooners tocando com uma banda de baile, alguns com videokê. Não estou dizendo que a banda do Caetano é maravilhosa ou desprezando o talento dos músicos de estúdio nacionais, apenas acho que com os caras o Caetano conseguiu encontrar um som com personalidade, pelo menos até a paleta de cores mudar de novo.
Ouvi dizer também que o Cê é muito melhor que o Zii e Zie. Não achei. Os dois discos são mesmo muito parecidos e estão no mesmo nível. Só achei desnecessária a versão de Incompatibilidade de gênios. Não gostei. Talvez porque sou um fã incondicional da versão do João Bosco e a considero definitiva.
Pra quem quiser conferir o show é nesta sexta no Marista Hall. Vão os links que encontrei na rede para baixar ou comprar os discos. A escolha é sua.
Recebi esse texto a partir de um grupo de discussão do qual faço parte.
João Pereira Coutinho, 32, é colunista da Folha. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Record). Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.
Achei um bom retrato dos consultórios dos dias atuais
Os normalopatas
Sorrio de espanto: de acordo com a bíblia da psiquiatria mundial, sou um demente
A TIMIDEZ É doença? Uma amiga minha acredita que sim e procurou ajuda especializada. Entrou numa consulta de psiquiatria e, como normalmente acontece, nunca mais de lá saiu. Um ano depois, e algumas sessões depois, existem progressos: ela consegue estar num "evento social" e conversar "naturalmente" com as pessoas em volta. A terapia ajudou (muito). A medicação ajudou (muitíssimo): um coquetel de antidepressivos e ansiolíticos que a obrigaram a sair da concha e a conhecer o mundo.Escutei tudo isso ao almoço e não pude deixar de pensar como o mundo é um local estranho. Tempos houve em que certos comportamentos pessoais eram parte da diversidade humana. Uma pessoa tímida era simplesmente uma pessoa tímida. Uma pessoa expansiva era simplesmente uma pessoa expansiva. Nem todos podemos ser borboletas. Alguns acordam para o mundo e descobrem, ao contrário do que Kafka dizia, que os pequenos insectos também têm o seu encanto.Gradualmente, a psiquiatria começou a ter uma palavra sobre o assunto, procurando "regular" ou "normalizar" a variedade de que somos feitos. Não é preciso ter lido Foucault para acreditar nessa história, até porque o radicalismo de Foucault não ajuda e só atrapalha. Basta olhar em volta.Basta olhar para amigos tímidos, ou então para crianças hiperativas (ou deliciosamente preguiçosas), e encontrar neles um potencial doente, um potencial demente, a exigir intervenção psicofármica. Uma parte da medicina moderna acredita na ideia, pessoalmente aberrante, de que deve existir um padrão de "equilíbrio comportamental" para definir um ser humano harmonioso, realizado e feliz.O problema é que poucos correspondem ao padrão. Depois desse almoço, regressei a casa, disposto a investigar o crime. E então encontrei, por feliz coincidência, o relato precioso da última reunião da American Psychiatric Association, em São Francisco. Segundo parece, essa vetusta agremiação de luminárias discutiu as últimas alterações ao manual de referência da especialidade, o "Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder". Publicado desde 1952, e revisto de década em década, o manual pretende agora incluir novas "doenças" mentais, em sintonia com o espírito do tempo. Exemplos? Vários.Para começar, existem "doenças" relacionadas à alimentação. É o caso da "binge-eating disorder" e da "night-eating syndrome". Em linguagem de gente, a primeira refere-se a uma compulsão excessiva para comer mais do que o estritamente necessário; a segunda pretende diagnosticar, e tratar, o gosto perverso por assaltar a geladeira depois da meia-noite. Mas a lista de novas "doenças" não fica por aqui.O vício pela internet e pelo e-mail ("internet addiction"); o gosto por vários parceiros sexuais, em sucessão ou em simultâneo ("sex addiction"); a compulsão "terapêutica" por compras ("compulsive shopping"); a fúria incontrolada e muitas vezes injustificada ("embitterment disorder"); o preconceito perante a "diferença" ("pathological bias"); e mesmo a tendência idiossincrática para colecionar materiais diversos ("pathological hoarding"), nada escapa à inquisição psiquiátrica.Leio esse admirável cardápio e sorrio de espanto. Ou de medo. Ou de ambos. Razão simples: de acordo com a bíblia da psiquiatria mundial, eu sou objectivamente um demente. Nada que surpreenda os meus leitores mais regulares, é certo. Muitos menos as pessoas que partilham a minha existência.Mas algo me surpreende. Eu nunca imaginei que a minha gula (diária e noturna); os meus acessos de fúria (justificados ou não); os meus recorrentes preconceitos (contra políticos, adolescentes ou feministas); os meus desportos mais íntimos (que não incluem a monotonia); a forma criminosa como gasto fortunas (em camisas, sapatos, ternos); e a minha tendência para guardar obsessivamente os mais ridículos objetos (jornais antigos, próteses, peças de lingerie alheias), fosse motivo para tratamento médico especializado.Prometo marcar consulta. E prometo emergir das sessões um homem novo: vegetariano, ambientalista, tolerante, multicultural e, no duplo sentido da palavra, com espírito de missionário.No mundo moderno em que vivemos, a única doença tolerável é mesmo a normalopatia.
Como prometido no post "The White Stripes - Rock'n Roll em Listras Brancas, Vermelhas e Pretas" , vou contar um pouquinho mais sobre a história de John Anthony Gillis, o irrequieto Jack White III, o guitarrista de número 17 na lista dos 100 maiores da Rolling Stone. Jack White o filho caçula, o sétimo homem, de um total de 10 filhos, nasceu nos subúrbios de Detroit, aprendeu a tocar bateria aos 5 anos de idade e, ao contrário de seus colegas de infância, que preferiam a música eletrônica e o hip-hop, se apaixonou pelo blues e pelo rock dos anos 60. Jack encontrou a garçonete Meg White em 1995 e, apesar de, no início, se apresentarem como irmãos, eles foram casados de 1996 a 2000, John, que já adotava o codinome Jack, adotou o sobrenome de Meg e fundou com ela o White Stripes, em 1997. O White Stripes começou a ter notoriedade em Detroit e, em 1999, lançou seu primeiro álbum "White Stripes", seguido por "De Stijl" e "White Blood Cells", que levou o grupo a ser notado para além das fronteiras americanas. Estes primeiros álbuns têm uma produção bem simples, quase amadora, mas "Elephant", o quarto álbum, gravado em Londres, trás uma produção mais apurada e leva a banda ao topo das paradas, com sucessos como "Seven Nation Army" e "Hardest Button to Button". Os dois lançam então "Get Me Behind Satan", gravado no estúdio de Jack, em Detroit, um álbum mais experimental, com menos guitarras, que desagradou a alguns fãs. Vem então "Icky Thump" de 2007, gravado em Nashville por três semanas, o tempo mais longo que o White Stripes levou para gravar um álbum.
Em 2005, Jack White forma, juntamente com seu amigo Brendan Benson, o "The Racounters", que lançou "Broken Boy Soldiers" em 2006 e "Consolers Of The Lonely" em 2008.
Os planos de Jack para 2009 são pretensiosos, ele está lançando um álbum, "Horehound", como baterista do "Death Weather", juntamente com a vocalista Alison Mosshart (The Kills), o baixista Jack Lawrence (The Racounters) e o guitarrista Dean Fertita (Queens Of Stone Age). Além disso pretende gravar um álbum solo e o sétimo do White Stripes.
Jack, enfim, com seu humor irônico, sua postura inquieta e sua atitude, dá um novo frescor ao Rock'n Roll, recomendo.
Não sou exatamente um fã de Power Point's otimistas e frases de autoajuda com belos conselhos óbvios, sou um pouco mais pessimista. Uma vez, ao ler um belo livro sobre educação infantil, o autor disse uma frase que, para mim, é uma das maiores verdades que já ouvi, "...conselhos só servem para quem não precisa deles...". Mas este discurso de Steve Jobs, pronunciado em 2005, na formatura da Universidade de Stanford, merece ser ouvido e, se conseguirmos aproveitar o mínimo dele, já será muito útil. Steve Jobs é um cara fantástico, por tudo o que ele representa na área da tecnologia, que, por estar diretamente ligada ao paradigma do consumo, destrói muitos idealistas e cria muita demanda inútil. Steve Jobs é um exemplo, ao conseguir criar inovações reais e ao manter a qualidade como um valor maior, coisas raras neste atual mercado de predadores vorazes, que cria museus de grandes novidades e aonde o disponibilizar mais rápido, a preços mais acessíveis, em geral, deixa a durabilidade e a confiabilidade de lado. Fica claro, neste discurso, que Steve Jobs é um apaixonado pela vida e que, por isso mesmo, ao descobrir a insustentável leveza e fragilidade dela, fez uma opção por viver intensamente. "...Saudações, aos que têm coragem..." Uma nota final: Steve Jobs, que saiu de licença médica desde Janeiro, recebeu um transplante de fígado e retornará às suas atividades no final de Junho. Mais informações no link: http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iblrkoYA-fBaNjgEQETDFOnQ3BRg
19 de Junho de 2009, o genial Francisco Buarque de Hollanda completa 65 anos. Chico, autor de algumas das maiores obras primas de nossa música popular, parece realmente crer que a canção está morta e tem se dedicado a um novo desafio, utilizar sua habilidade com as palavras, para se tornar um escritor. Acho difícil separar o compositor do escritor, apesar de acreditar, quando o próprio Chico afirma, que são duas experiências de criação completamente distintas, mas acho difícil uma crítica ao Chico escritor que seja isenta. De todo o modo o texto dele é inegavelmente inteligente e elegante, como já se podia observar nos livros anteriores, "Estorvo", "Benjamim" e "Budapeste", cuja adaptação cinematográfica se encontra em exibição nos cinemas (http://www.new.divirta-se.uai.com.br/html/cinema_ficha/id_filme=441/cinema_ficha.shtml). Quem se interessar em conhecer o mais novo lançamento literário dele, "Leite Derramado" fica a dica do site http://www.leitederramado.com.br/wordpress/ .
De minha parte, fica o desejo de vida longa a este autor genial e que ele ainda produza muitas obras geniais, tanto na literatura, quanto na música.
Em 18 de Junho, a exatos 67 anos, nascia Sir James Paul McCartney, fadado a se tornar uma lenda, ao protagonizar, juntamente com John Lennon, George Harrison e Ringo Star, o maior fenômeno da música pop mundial, Os Beatles.
Polêmicas a parte, a musicalidade de Paul McCartney foi uma das principais responsáveis pela sonoridade revolucionária dos quatro rapazes de Liverpool. O multiinstrumentista Paul McCartney é também o Beatle que teve a carreira solo mais produtiva, colecionando inúmeros sucessos. Paul McCartney está rodando o mundo com sua anunciada grande última turnê (vide o post "Paul McCartney - A Última Chance") e há rumores de que possa aportar por terras brasileiras ainda este ano.
Para finalizar esta singela homenagem, dois momentos maravilhosos, o primeiro, uma das últimas gravações dos Beatles, "Get Back" e outro, aonde Paul McCartney, tocando um cavaquinho, que, segundo as más línguas, recebeu de presente em sua última passagem pelo Rio de Janeiro, ao lado de Eric Clapton, Ringo Star e outros expoentes da música pop, rende uma homenagem a George Harrison, cantando "Something".
Comparações são sempre perigosas. No entanto, vou correr o risco e espero não ser mal interpretado. Como bom mineiro e Belo Horizontino, sou fã do clube da esquina. É inegável a revolução musical que Bituca, Lô, Toninho Horta, entre outros, promoveram na música nacional, marcando a música e os músicos mineiros com um selo pré ou pós clube da esquina. Entretanto, confesso que há algum tempo não tenho tido muita paciência pra o que essa galera e seus herdeiros vêm produzindo, parece faltar alguma coisa, não sei se tez ou tesão. A verdade é que nada de realmente novo tem sido criado por essa nobre parcela dos nossos artistas que acabam, hoje, sobrevivendo dos sucessos do passado.
Outro dia escutei o som do 'Graveola e o lixo polifônico', banda aqui de Belo Horizonte mesmo, e sabe que eu vi neles a possibilidade de preencher esse espaço na música mineira?
O disco é fantástico, principalmente no início. As composições mesclam a complexidade na concepção dos arranjos com a simplicidade do resultado. Apesar de toda brincadeira experimental com o ritmo e a harmonia, o som sai leve e delicioso. Letras extremamente sonoras cantadas pelos vocais com timbres marcantes e aveludados, além da multiplicidade de instrumentos e barulhos muito bem tocados. Um ótimo disco de MPB. Original, novo, criativo e vibrante.
A banda é declaradamente adepta da estética do plágio, conceito cunhado pelo Tom Zé, que prega, mais ou menos, que o novo só pode surgir de uma colagem de nossas influências e nunca será totalmente inédito em todas as suas partes. O fato é que em diversos momentos, como em 'Dois lados da canção', os versos e a melodia esbarram em alguns clássicos da MPB.
Fica uma crítica, pra não parecer matéria comprada, não gostei muito das músicas do final do disco, são legais também, mas estão fora de sintonia com o lirismo e a genialidade do início. Pode-se dizer que a partir da nona música: 'O quarto 417' temos outro disco. Talvez fosse o caso de deixá-las para um outro trabalho, outro album, quem sabe?
Vai aqui o myspace da banda e um link fornecido por eles pra baixar o disco:
O documentário "Palavra (En)cantada" de Helena Solberg é uma ótima dica para quem gosta de música brasileira e, principalmente, das letras de músicas brasileiras.
O assunto fica longe de ser esgotado em um documentário de apenas uma hora e meia, mas, com depoimentos bem descontraídos, que vão de Chico Buarque a B Negão, passando por Adriana Calcanhotto, Antônio Cícero, Arnaldo Antunes, Ferréz, Jorge Mautner, José Celso Martinez Correa, José Miguel Wisnik, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Lenine, Luiz Tatit, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Tom Zé e Zélia Duncan e cenas antológicas de outros importantes artistas de nossa música, a diretora consegue construir um painel bem rico da nossa música, sem ser tendencioso para algum estilo, mostrando a riquesa de nossa língua e como foi construída uma tradição da palavra cantada em nosso país.
O documentário vai além da mera discussão se as letras de música são poesia ou não, passa por este tema, mas, ao final, é possível concluir que, mesmo que não consideremos as letras de música poesia, elas têm um papel artístico próprio, construindo, com a sonoridade particular das palavras na língua portuguesa, uma forma de expressão muito rica, que influenciou várias gerações e construiu uma dimensão cultural própria, em vários estilos musicais.
Para mim, este documentário teve o papel de despertar mais a curiosidade sobre o tema e me ajudou a compreender o encanto que a palavra musicada sempre me causou.
Que é loucura: ser cavaleiro andante ou segui-lo como escudeiro? De nós dois, quem o louco verdadeiro? O que, acordado, sonha doidamente? O que, mesmo vendado, vê o real e segue o sonho de um doido pelas bruxas embruxado?
E o Rock'n Roll? Morreu ou não morreu? Para alguns, mais exigentes, aquela música que embalou a rebeldia, que teve o seu auge no final dos anos 60, e que mudou para sempre o mundo, mesmo que o sonho não tenha se realizado por completo, não existe mais. Para outros, mais desatentos, qualquer guitarra distorcida e rápida pode ser traduzida como Rock'n Roll. Na minha opinião, nenhum dos dois está totalmente certo ou errado. Quando alguns garotos brancos se apaixonaram pelo som negro, tocado nos guetos, e que falava de temas proibidos nas tradicionais famílias puritanas, como sexo e drogas, uma revolução se iniciava. Hoje em dia não temos noção do conflito de gerações que aquela música sensual e libidinosa gerou. Em nossos dias podemos encontrar pais se vestindo e tendo atitudes mais irreverentes do que os próprios filhos, mas, se olhamos entrevistas e vídeos da época, é possível observar o abismo que separou aquelas gerações. Mas, como o mercado transforma tudo em produto de consumo, logo a rebeldia passou a ser um produto a venda nas melhores lojas do ramo e, hoje em dia, é muito difícil separar o joio do trigo. Porém, de tempos em tempos, a angústia da juventude consegue ser traduzida por algum grupo de jovens inconformados. Em tempos de globalização que, antagonicamente, cria tribos cada vez mais diversas, está cada vez mais difícil encontrar traduções mais unanimes desta angústia e o mercado está cada vez mais voraz. Outro dia, só para ilustrar, vi uma capa de revista de moda, que estampava a manchete: "Grunge Com Glamour", fiquei boquiaberto e sem palavras com tamanha incoerência. A música também mudou muito, as diversas influências e contribuições de tantas culturas fez com que o Blues e o Country, principais ingredientes do Rock'n Roll do início dos tempos, ficassem tão diluídos que, em alguns momentos, quase não é possível reconhecê-los. Vou render uma homenagem hoje a uma dupla que alimenta o aparelho de respiração artificial do Rock'n Roll. A primeira vez que tive contato com o White Stripes, de Jack White e Meg White, foi através do vídeo de "Jolene", não gostei de primeira, achei o guitarrista meio afetado demais e o som e atitude me soaram meio "modernosos". Depois, quando eles vieram ao Brasil e tocaram em Manaus, achei interessante a entrevista dos dois (na verdade só o Jack White falava), percebi uma ironia, que sempre me atraiu no Blues e no Rock, e que, há muito tempo não encontrava. O jeito excêntrico dos dois também me atraiu. Era um excentrismo que, ao invés de afastar, como o praticado em nos dias atuais, atraía e fazia um chamado a um olhar diferente para o mundo, como uma brincadeira de criança. Logo em seguida, ao entrar na Internet, ví o chamado para a audição do, então recém lançado, "Icky Thump" da dupla, fui conferir o trabalho e, atraído pelo título da música, ouvi "Catch Hell Blues", tomei um soco na cara e, atordoado, ouvi todo o restante. Fiquei impressionado com a sonoridade, que me lembrou muito trabalhos dos anos 70, como Led Zeppelin. A guitarra de Jack White, um virtuose no bom sentido, logo me seduziu, e saí em busca de mais informações. Descobri um garoto de Detroit que se apaixonou pelo Blues e pelo Rock'n Roll e logo se tornou um virtuose, com sua maneira de tocar e sua presença de palco. Jack encontrou em Meg um suporte perfeito para sua maneira de tocar e se apresentar. Eles chegaram a se casar, mas, aparentemente, só o casamento musical é que perdurou, com algumas interrupções, Jack, por exemplo, tem um trabalho paralelo com o grupo "Raconteurs". As histórias são muitas e talvez mereçam um novo Post, por enquanto, para quem ficou curioso, recomendo uma passagem no site da dupla (http://www.whitestripes.com/) que é muito criativo e cheio de simbologias. No site é possível assistir a todos os vídeos oficiais, extremamente criativos, da dupla. Para finalizar, por hoje, fiquem com uma amostra de "Catch Hell Blues" ao vivo (apesar da legenda informar "300 M.P.H. Torrential Outpour Blues", outra música).
Só reconhece o perfeito aquele para quem o é. Como um certo brilho que cintila apenas para determinada íris que o vislumbrou. Como só se conhece o cheiro aquele que já se enumbriou em tal aroma. Contos dispersos decifrados e codificados por repetidas vezes, na empoeirada estrada do tempo. Porém, vindos de quem? Qual foi a do aquele que esteve ali?A do aquele que pirou pela primeira das primeiras? Que sentiu o tremor nos próprios tímpanos?
Há cerca de dois anos fui a uma festa do programa alto-falante. No programa, o show do Ricardo Koctus (baixista do Pato Fu) e de uma banda de abertura de estranho nome. Fui pra assistir ao Ricardo, mas o show dos caras me ganhou. Um instrumental conciso e consistente sustentando as belas letras cantadas pelo vocal ("O tormento é sempre a solução/Me atormenta a calma e a mansidão"). Confesso que não consegui assistir ao show do Ricardo Koctus, comprei logo o disco dos caras e desde então virei fã. A banda vem do Acre, o que por si só já é interessante, é composta por Diogo Soares (Voz), João Eduardo (Guitarra), Márcio Magrão (Baixo) e Jorge Anzol (Bateria). Chama a atenção os arranjos de guitarra muito criativos e leves ou pesados de acordo com a exigência do momento da música, além das letras poéticas e sonoras como há muito não via em uma banda de rock nacional. Indico sem restrição. Rock alternativo de primeira qualidade. Pode baixar sem dó!
Aqui a vai o link para baixar o primeiro e único disco dos caras, além do single lançado pela trama virtual 'Retrato calado':
Após semanas embriagantes, aquele que tudo podia chega em sua nova casa que parecia com tudo que sempre desejou de uma moradia.
Uma porta deslumbrante se apresenta em sua frente, deslumbrado leva a mão à maçaneta, porém, antes mesmo de alcançá-la, a porta se abre e de trás dela aparece uma linda mulher que o recepciona com o mais simpático e delicioso sorriso.
Após se satisfazer de todas as formas possíveis e imagináveis, resolveu se encostar em seu perfeito sofá e repousar. No primeiro encostar de pálpebras, caiu em sono profundo, entretanto não sonhou, apenas um sono escuro que se prolongou até o primeiro desejo de despertar.
Acordou e ainda sonolento lhe veio à mente a imagem daquele velho homem enrugado, do qual tinha herdado seu novo e precioso dom. Desejou entender porque alguém que tudo podia estaria tão velho e enrugado, porque não desejou ficar mais jovem, mais bonito. Demorou um pouco mais de instantes, mas seu desejo se realizou.
Caiu em depressão profunda pelo peso do saber.
Saber que todos os desejos que se realizam alteram de alguma forma o sujeito que os desejou, até o momento em que o mesmo não distingue mais aquilo que o identificava.
Saber que quanto mais desejos realizados acumular, mais sua personalidade se fragmentará, até o momento em que nada mais vai desejar e, consequentemente nada mais o satisfará.
Saber que o tudo poder é um fardo que nem mesmo o mais sábio e habilidoso mortal pode lidar.
A sala é ampla, difícil de definir, pois não se sabe se a amplitude vem do tempo, que a fez maior do que ela realmente é, ou se é realmente ampla. Até o cheiro é de tempo, mas de um tempo para além do movimento dos ponteiros de um relógio, talvez porque as narinas já se acostumaram. A claridade era suficiente para aquelas pupilas dilatadas, o bastante para perceber o vermelho da cortina em frente, vermelho que, de tão brilhante, ofuscava as manchas verdes do mofo. Os corpos apresentavam uma sensação que nossa pobre literatura não é capaz de descrever, uma sensação entre o cansaço de desejar que nada mais existisse e fosse possível o descanso eterno, ou uma vontade louca de se erguer e descobrir tudo o que poderia estar por detrás daquela cortina. Mas o que se descortinava era apenas desejo, no fundo eles previam, sem enxergar, a desordem.
Eles se levantaram e começaram a caminhar rumo à cortina, sem saber, ao certo, de onde vinha a iniciativa.
Ao abrir a cortina, lá estava a desordem pressentida, mas, pela lei da inércia, subiram os degraus e começaram a arrumar aquela balbúrdia, sem ordenar seus atos.
De repente ela sentiu aquela estranha união entre os dois se quebrar e voltou ao centro da sala, movida pela mesma força que a tinha levado para junto da cortina, olhou em volta e se fixou em uma porta que, a princípio, era somente mais uma peça da decoração, caminhou em direção a ela e, movida apenas por impulso, colocou a mão na maçaneta e, instantaneamente, a porta já estava aberta.
Uma claridade atômica invadiu seu mundo e, durante alguns segundos, que duraram uma eternidade, seus olhos sentiram dor.
Em seguida, ela começou a perceber aquele ruído, que despertava em sua memória imagens de festas, conversas, movimento, desordem, diferente daquela desordem pressentida anteriormente.
O cheiro era de um odor tão familiar, que ela não acreditava o quanto, naquele momento, ele pudesse se apresentar tão peculiar.
Um vento e um calor de, provavelmente, início de primavera, pelo menos era o que ela queria acreditar, invadiu seu corpo.
Ela viu aquela correnteza urbana passar à sua frente e pulou de cabeça, na esperança de algum mar, deixando às suas costas a porta aberta, para que a inundação invadisse aquela sala, levando cortinas e quebrando janelas.
Ele? Continuava a sua arrumação insana, pisando em insetos, sem perceber, ou pior, sem entender o que se passava.
Este texto foi encontrado entre meus guardados, datado de 28/05. O ano? Não sei, provavelmente final dos 80, início dos 90.
Está cada vez mais difícil a sobrevivência no mercado musical. No meio da infinidade de bandas, da incerteza com relação às estratégias de promoção da arte, do impacto do mp3 e da pirataria e da falta de criatividade que parece rondar os músicos hoje em dia, no momento atual, além de talento, é necessário ter boas ideias. O Pato Fu tem mostrado ter as duas coisas. Prova disso é o lançamento dessa semana: o ótimo 'Extra! Extra!'. Utilizo o texto de divulgação do newsletter para explicar o que é:
"É o conteúdo inteiro de um DVD, disponibilizado de graça. São mais de 150 minutos de documentários de turnê, versões alternativas das músicas do Daqui Pro Futuro, videoclipes, "Música de Bolso" em episódios inéditos e muito mais. Basicamente é um DVD só de faixas bônus, sem conteúdo principal... colocado online! Há também a opção pra quem quiser baixar (também de graça) tudo em seu computador ou mesmo comprar o DVD "físico" pra assistir em alta definição. O DVD será vendido somente em nosso site e na lojinha de shows, ou seja, é um genuíno ítem de colecionador."
Muito legal mesmo, tanto os videoclipes, bem como todos os vídeos, ambos muito simples quando o quesito é investimento e equipamento e, por outro lado, muito complexos na concepção artística.
Recomendo todo o trabalho, mas especificamente as sessões lições da estrada e fake demos. Você vai ter a oportunidade de ver o punkmetalfloydrose John tocando piano e o batera tocando violão e curtir a sempre simpática Fernandinha em momentos intimistas.
É muito bom ser fã do Pato Fu! Mais uma aulinha pra quem tem banda.
Este post estou devendo ao meu grande amigo Cristiano, desde Fevereiro, quando ele fez 30 anos.
Andando com ele, tenho conhecido uma turma por volta dos trinta, e me lembrei deste texto, que recebi a uns doze anos atrás.
"FAZER TRINTA ANOS"
Affonso Romano de Sant'anna
Quatro pessoas, num mesmo dia, me dizem que vão fazer 30 anos. E me anunciam isto com uma certa gravidade. Nenhuma está dizendo: vou tomar um sorvete na esquina, ou: vou ali comprar um jornal. Na verdade estão proclamando: vou fazer 30 anos e, por favor, prestem atenção, quero cumplicidade, porque estou no limiar de alguma coisa grave.
Antes dos 30 as coisas são diferentes. Claro que há algumas datas significativas, mas fazer 7, 14, 18 ou 21 é ir numa escalada montanha acima, enquanto fazer 30 anos é chegar no primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar.
Fazer 40, 50 ou 60 é um outro ritual, uma outra crônica, e um dia eu chego lá. Mas fazer 30 anos é mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem faça 30 anos aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar os 30 anos. Fazer 30 anos é coisa fina, é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas. Fazer 30 anos, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada.
Até os 30, me dizia um amigo, a gente vai emitindo promissórias. A partir daí é hora de começar a pagar. Mas também se poderia dizer: até essa idade fez-se o aprendizado básico. Cumpriu-se o longo ciclo escolar, que parecia interminável, já se foi do primário ao doutorado. A profissão já deve ter sido escolhida. Já se teve a primeira mesa de trabalho, escritório ou negócio. Já se casou a primeira vez, já se teve o primeiro filho. A vida já se inaugurou em fraldas, fotos, festas, viagens, todo tipo de viagens, até das drogas já retornou quem tinha que retornar.
Quando alguém faz 30 anos, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para a dos 30 saltitantemente. Fazer 30 anos é cair numa epifania. Fazer 30 anos é como ir à Europa pela primeira vez. Fazer 30 anos é como o mineiro vê pela primeira vez o mar.
Um dia eu fiz 30 anos. Estava ali no estrangeiro, estranho em toda a estranheza do ser, à beira-mar, na Califórnia. Era um homem e seus trinta anos. Mais que isto: um homem e seus trinta amos. Um homem e seus trinta corpos, como os anéis de um tronco, cheio de eus e nós, arborizado, arborizando, ao sol e a sós.
Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.
Mas fazer 30 anos é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo é mister de grande responsabilidade. É descobrir outra dimensão além dos dedos da mão. É como se algo mais denso se tivesse criado sob a couraça da casca. Algo, no entanto, mais tênue que uma membrana. Algo como um centro, às vezes móvel, é verdade, mas um centro de dor colorido. Algo mais que uma nebulosa, algo assim pulsante que se entreabrisse em sementes.
Aos 30 já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que um tempo em nós destila, que no tempo nos deslocamos, que no tempo a gente se dilui e se dilema. Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer.
Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.
Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar. (13.10.85) O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 36.
O outono chegou bem azul! Espero que também seja cinco estrelas.
Inicio o post lamentando a ausência dos meus companheiros essa semana. Cadê a continuação da estória Fa? Faz mal não a gente vai tocando daqui.
Esse post na verdade é um complemento do anterior. Nos comentários, uma de nossas leitoras contribuiu com a indicação de uma banda de nome instigante. Fui lá conferir o myspace dos caras e gostei do que vi.
O Instiga é um trio de bons músicos que fazem um rock simples e bem humorado. Bateria precisa e floreada, um baixo faceiro e um sonzinho de strato muito bem explorado, além de vocais divertidos é claro. Minhas faixas preferidas do trabalho batizado como 'Tenho uma banda' foram Tem uma banda, Heitor e Ana, Nerds (sem dúvida a que mais gostei; no site tem vídeo da banda tocando ela ao vivo), Carta de demissão (demais!) e Aquela da cachorrinha (música que virou clip, também disponível no site). Em síntese um disco de rock, bem gravado e paulista na essência, não sei dizer bem porque, algo meio mutante, pelo menos no humor, sei lá!
Fiquei decepcionado apenas com alguma coisa da gravação que impede que entendamos as letras. Já ouvi o disco uma porção de vezes e só agora consigo entender algumas letras na íntegra. Penso também que 17 músicas é muita coisa, acaba deixando o disco um pouco cansativo, mas entre mortos e feridos fica uma impressão muito boa e mais um disco em meu ipod. Elogio também vai para o trabalho de produção da galera. O site e o myspace são bem legais, conseguiram dar uma identidade para a banda. Pra quem está nessa vida de ter banda vale a pena visitar pra dar uma sacada.
o endereço do myspace que vale a pena ser visitado pelo clip e pelos vídeos ao vivo (é sempre bom ver uma banda mandando ver pra saber de qual é): http://www.myspace.com/instiga
Passei pelo conexão vivo algumas poucas vezes essa semana. Vi muita coisa legal e também vi muito mais do mesmo. Chamou minha atenção, além da organização do evento, a energia do Falcatrua, a serenidade tresloucada do Otto e a simpatia talentosa do Moska, pra citar alguns. No entanto, o show que mais me motivou a escrever algo sobre foi o da ilustre desconhecida banda Transmissor.
Desconhecida pra mim. A banda já ganhou até prêmio de destaque no myspace. Lotada em um dos primeiros lugares da noite, quando o parque ainda estava vazio, assisti seu show ainda desacompanhado dos meus amigos. Músicas próprias, arranjos simples e boas letras. Nada demais, é certo, mas tudo muito legal. Fiquei pensando no papel que outra banda teve na história da música brasileira.
Bandas vêm e vão, claro, mas penso que o que normalmente lhes reserva um lugar na história é a característica de transformação introduzida por elas, que nos permite afirmar que existiu de fato um tempo antes e outro diferente depois daquela banda. Genialidade à parte e gosto de lado. Quem, por exemplo, é capaz de negar a influência da Madonna na música pop ou, pra utilizarmos um exemplo nacional, como desprezar o impacto dos Mamonas Assassinas na música pop brasileira. Longe de mim comparar Madonna com Mamonas (isso pode dar divórcio), mas utilizo esses exemplos pra mostrar que estou falando de algo que nem sempre envolve o talento musical, mas postura e uma idéia boa comercialmente e em maiores ou menores proporções artisticamente.
Voltando ao assunto do post, o Transmissor me lembrou como os Los Hermanos ganharam seu pedacinho na história da música nacional. No final dos anos noventa e início dos dois mil, todos no rock nacional queriam soar Skank (tirando Recife que é outro mundo e olha que eu vi muita gente imitando a Nação Zumbi). Era o triunfo do pop. Posterior a isso, com o desgaste desse modelo, que até o Skank abandonou (será?) e no meio do novo resgate do samba e do chorinho (que tem hora que cansa), do radicalismo do rock altenativo (que também cansa de vez em quando) e da vendagem do pop (que não suporto mais), acredito que a banda do almirante até conseguiu criar algo com uma pitada de cada uma dessas coisas (tornando-as menos cansativas e insuportáveis). Ao assistir ao show do Transmissor, percebi com clareza que com isso eles criaram uma nova tendência. Bom, se essa turma é a dos novos Chicos Buarques, se o Marcelo Camelo é o novo gênio da MPB, aí já são outros quinhentos, deixo isso pra quem é fã (no sentido religioso do termo) e fica contagiado pela arrogância dos caras. Arrogância presente nessa turminha "farsa da FAFICH" (conceito cunhado pela minha amiga Bela e de difícil definição), mas que é também exagerada pela imprensa. Sei que me agrada essa misturinha: letras em português (bem escritas), guitarras distorcidas tocando acordes de bossa nova e postura de alternativo com os dois pés no pop (que é antipático em alguns momentos, mas não é crime nos dias de hoje pós punk de butique). Vai aqui o Ventura dos Los Hermanos (meu preferido) e o myspace do Transmissor, já que não consegui o disco. Parece que no myspace dá pra baixar. Quem conseguir me ensina por favor.
(Não me responsabilizo pelo conteúdo dos links ou pela escolha pelo pirata ou pelo oficial, isso fica a seu critério, sugiro apenas a degustação da obra de arte abaixo, para embasar sua decisão sugiro os primeiros posts sobre pirataria aqui mesmo no las mamas estupendas)
Venho retomar um assunto levantado por nosso amigo Afonso, no post "Cinema Brasileiro: ESTÔMAGO", em outubro de 2008. Naquela oportunidade ele nos convidava a comentar sobre a nova fase do cinema nacional, indicando filmes que nos tenham chamado a atenção. Pois tenho a acrescentar que, para mim, a grande virada do cinema nacional, ocorreu por intermédio de uma nova geração de cineastas, que trouxeram uma nova linguagem, talvez mais "holywoodiana" sim, talvez herdeira de uma linguagem publicitária, mas, com certeza, com uma narrativa mais envolvente, contando estórias que nos prendem e emocionam profundamente. Adoro cinema, descobri que adoro ouvir e ver estórias, mesmo as ruins, sou daqueles que assiste a qualquer filme até o fim, gosto dos chamados filmes de arte, gosto também dos "Blockbuster's", mas, sobretudo, gosto de filmes densos, alguns que a maioria acharia chato e entediante, porém, devo confessar, tinha pouco estômago para o cinema nacional "intelectualóide pós Cinema Novo". Mesmo Glauber Rocha, ao qual fui apresentado muito novo por um grande amigo, não consegui muito deglutir, mas guardo um grande respeito a este ícone do cinema nacional, que criou uma linguagem própria e foi reconhecido mundo afora, mas a turma que se julgava herdeira desta linguagem, talvez por conveniência, nunca foi muito bem digerida por mim. É inegável que foram produzidas algumas boas obras, mas, de toda a forma, eram filmes que exigiam um esforço extra para serem mastigados. Respeito a Carla Camurati e seu "Carlota Joaquina", que abriu as portas da distribuição independente, e ajudou na ressurreição do cinema nacional, em um momento em que ele dava sinais de morte cerebral e corporal, mas acho que o grande responsável por toda uma mudança, em termos de qualidade e linguagem, foi Walter Salles, que, na minha opinião, não é tão reconhecido quanto merece, principalmente pelos brasileiros. Quando vi "A Grande Arte", baseado em um livro de Rubem Fonseca, que também escreveu o roteiro, já percebi que algo começava a mudar no cinema nacional, finalmente uma nova linguagem estava sendo proposta. O filme não é bom, mas já propunha uma nova forma de contar uma estória cinematográfica, pelo menos em terras tupiniquins. Quando assisti, alguns anos mais tarde, ao "Terra Estrangeira", antes do fabuloso "Central do Brasil", ai sim me apaixonei e percebi que um novo cinema nacional estava nacendo. Por isso, na minha modesta opinião, "Terra Estrangeira" é um dos filmes mais importantes da história do cinema nacional e, sem dúvida, o mais importante desta recente fase produtiva.
This is the cover art for the Album Cover White as Snow (song) by the artist U2. The cover art copyright is believed to belong to the label, Interscope, or the graphic artist, Hiroshi Sugimoto.
Como prometi na semana passada, mais umas dicas sobre a nova empreitada do U2.
Primeiro "Linear". Linear é um filme sem falas, do fotógrafo e diretor Anton Corbijn, baseado em uma estória de Bono e Anton, que trás as músicas do álbum "No Line On The Horizon", menos "I'll Go Crazy If You Don't Go Crazy Tonight" e mais a inédita "Winter", utilizando os personagens que Bono criou para o álbum. O filme vem junto com as edições digipak, revista, box e iTunes de luxo, do álbum.
Outra novidade é a turnê de divulgação do álbum "U2 360° Tour". Continuando a onda de inovações, que a banda iniciou desde "Zoo TV", para divulgar o álbum "Achtung Baby", agora a banda vai se apresentar em um palco giratório, que ficará no centro da platéia, como pode ser visto no site http://360.u2.com/ . O resultado, pelo que parece, vai ser incrível. Já vou juntar uma grana, por via das dúvidas, caso eles passem por perto.
,Estava procurando um vídeo do Dave Weckl, um baterista que conheci numa vídeo aula, que quase me convenceu que tocar bateria era muito fácil, para mostrar para o Caíque, quando dei de cara com o vídeo a seguir. Os outros bateristas eu conheci através do mundo pop, Vinnie Colaiuta tocou com Sting e Steve Gadd com Paul Simon, na época que estes caras se meteram a fazer música sofisticada, com uma boa pegada pop. Pensei, 9 minutos de solo de bateria??? Deus me livre! Mas assisti ao vídeo e eu, que não sou chegado a solo de bateria, fiquei boqueaberto, estes caras realmente têm o que dizer com seus instrumentos.
Steve Gadd se notabilizou por trabalhar com gente como Paul McCartney, Paul Simon, Steely Dan, Al Jarreau, Joe Cocker, Stuff, Bob James, Chick Corea, Eric Clapton, James Taylor, Jim Croce, Eddie Gomez, The Manhattan Transfer, Michal Urbaniak, Steps Ahead, Al Di Meola, Manhattan Jazz Quintet, Richard Tee, Jon Bon Jovi. O toque dele que me chamou a atenção foi em "Fifty Ways To Leave Your Lover", vejam que delícia.
Vinnie Colaiuta, que ficou famoso por tocar com Frank Zappa, me chamou a atenção no trabalho "All This Time", do Sting.
Já Dave Weckl, fiquei sabendo depois, através de uma fita K7 de jazz da melhor qualidade, que ganhei de presente, fez parte da lendária Chick Corea Elektric Band, ao lado de John Patitucci, no baixo, Scott Henderson e Carlos Rios, nas guitarras, depois substituídos por Frank Gambale na guitarra e Eric Marienthal no sax, além de, é claro, Chick Corea nos teclados, jazz moderno de primeiríssima.
E que Deus salve os bateristas que tocam "paca" e que a gente nem nota, se tiver distraído.
Recebi através de um grupo de discussão do qual faço parte esse texto interessantíssimo. Interessante porque polêmico e principalmente por ser politicamente incorreto, o que hoje em dia tem que ser valorizado nesse mar de homogeneidade em que vivemos. O texto, de autoria de Luiz Felipe Pondé, foi publicado em sua coluna na Folha de São Paulo do dia 13 de abril de 2009. Não sei se concordo com tudo o que ele disse, mas sobre o antitabagismo e a nova lei de São Paulo fico com a declaração de uma colega de trabalho tabagista inveterada: "O problema da convivência é que só o cigarro é proibido."
O cigarro de Sade Luís Felipe Pondé
SADE É sem dúvida um autor famoso. Para alguns, ele é um gênio que grita pela liberdade em meio ao século das Luzes (um Voltaire maníaco por sexo), para outros, mero tarado sexual com dotes literários medíocres. Apesar de tê-lo lido com alguma atenção e entender um pouco o que os especialistas veem nele, suspeito que, antes de tudo, seu sucesso se deu porque ele era um nobre "em desgraça" que escrevia pornografia pesada (quem não gosta?). Se ele estiver certo, somos todos tarados sexuais. Mas levemos a sério sua "crítica" e vejamos aonde ela nos levaria hoje.
Sade funda uma "tradição" que é ver no sexo algo além dele. Muitos o seguiram nessa suspeita de que sexo é mais do que sexo. O Sade político ou psicanalista é o mais famoso. Mas há um Sade "metafísico". Segundo sua metafísica, a Natureza é perversa e cruel e, portanto, a rigor, não há crime ou transgressão porque a regra é o crime e a transgressão. Nesse sentido, ele se aproxima muito dos cristãos antigos conhecidos como gnósticos, caras que afirmavam que o mundo foi criado por um deus mau. Segundo o que nos legou os críticos desses gnósticos, alguns deles se entregavam a todo tipo de sexo, menos o reprodutivo, como forma de desafio ao deus mau. Diriam eles: "Veja, oh! Miserável deus, você nos fez gostar de sexo para reproduzir suas vítimas, por isso fazemos apenas sexo estéril". Já há aqui algum indício da "sexualidade de protesto".
Mas o Sade político e psicanalista é mais fácil de circular em jantares inteligentes. Seus frequentadores são consumidores envergonhados de antidepressivos, não aturam pessimismo de gente grande como a metafísica de Sade. A política sadiana identifica na moral social a intenção de nos destruir pela repressão do desejo. Quem busca a "virtude", como sua personagem Justine, é objeto "feito" para ser torturado por uma sociedade que dá corpo à crueldade da Natureza louca. A revolta nesse caso é ser sexualmente "livre": transformar-se no libertino, ou seja, no torturador, identificando-se com a "regra da crueldade gostosa".
Já o Sade psicanalista é aquele que "pressente" o gozo da pulsão de morte como natureza essencial do animal louco que seríamos. Violência, revolução e gozo. Depois dele, nunca mais fomos para cama com alguém sem levar junto Freud (mamãe e papai), Marx (e a ideologia de classe), Foucault (e a microfísica do poder invisível), enfim, haja cama grande para tanta gente. Não fazemos mais sexo, fazemos política e sintomas quando temos tesão por alguém. Confesso que no fundo acho esse papo de perversão sexual meio "boring" (um saco): bater, queimar, cortar, apanhar, ser queimado, ser cortado. A mesma lengalenga de sempre. A morte para um perverso é achá-lo entediante. Na realidade, a política sadiana hoje está espalhada em sites sado-maso banais.
Acho mais interessante imaginar o que Sade teria escrito hoje, se vivesse em nossa época, dada a delírios de uma nova "pureza". Imagine, caro leitor, que existem pessoas que "salvam" o mundo comendo alface! Um exército de rúculas! O que seria transgressivo no caso da "nova pureza"? Tiraria ele sarro do "pai Obama"? Ou talvez ele fumaria um cigarro no meio de um templo onde se reúnem os fascistas da saúde? Mas tabaco faz mal! Claro que sim, mas ser violentada por cinco caras também faz mal. Fazer sexo nos telhados, como gatos, também faz mal. Por que achar que isso é libertador e fumar não? Vamos adiante, quem é o novo Sade? Que tal comer gordura trans? Ou será que a "ciência da comida saudável" já mudou de novo e agora comer gordura trans combate ataques cardíacos? Vejo um Sade gordo, dilacerando uma picanha em meio a um restaurante de comedores de rúculas. Chorariam? Ou o espancariam? Vaquinhas jamais, mas sádicos comedores de carne e fumantes merecem uma surra? Ou apenas desprezo e nojo? Os nazistas também eram defensores dos animais...
Sua Sodoma seria deliciosamente poluída, rindo das "medições" do aquecimento global. No lugar da teoria Gaia da "mãe terra", a "devoradora terra" gargalhando de nossa "devoção verde".
O Sade do sexo envelheceu. Hoje todo mundo acha chique achá-lo chique. O novo Sade é aquele que, talvez, debocharia de uma sociedade da saúde. O que nos humaniza são os vícios, não as virtudes. Temo pessoas que não têm vícios. O novo hipócrita é magérrimo, "verde" e antitabagista.
Quero ser sempre o último a dormir Disso não abro mão!
Começou como uma birra. Confesso. Uma luta atroz contra minha neurologia ainda incipiente. Depois virou mania. Mania de filho mais velho pra escutar conversa de gente grande. Era a arma que eu tinha para enfrentar aquela coisa fofa que chamavam de irmão. Assim eu parecia mais sabido. Não errava uma palavra e era amado novamente.
Mais tarde virou farra. Não conseguia mais me desfazer do meu vício. Arrumei até companheiros pra isso, mas nunca nenhum me derrubou. Reinava soberano, notívago, bêbado e genial. Catedrático da filosofia de bar.
Hoje, como disse certa Pessoa, provavelmente acordada em alguma madrugada distante: "Tenho um bicho dentro de mim que só sossega com álcool"! Ainda tenho quem me acompanhe, amigos esforçados em seguir meu ritmo. Juntos fazemos planos mirabolantes, solucionamos mistérios da humanidade ou apenas jogamos conversa fora. No final, estou só com os meus acordes, acordado, deliciando o misto de angústia e prazer que a irresponsabilidade me traz.
Depois de inúmeras postagens de fino trato e bom gosto neste blog, achei interessante fazer minha contribuição aos colegas. Como percebi a Ausência® de um post mais "baterístico" resolvi colocar este vídeo que mostra um dos bateristas mais fenomenais da atualidade: Denis Chambers. Neste vídeo ele se apresenta juntamente com John Scofield na guitarra, Gary Grainger no contra-baixo e Jim Beard nos teclados, mandando um jazz de primeira linha.
Aproveitando o embalo, posto também este vídeo que mostra o solo em conjunto de dois Titãs da bateria (Charles Gavin e João Barone), que conseguiram provar que é possível duas baterias se entrosarem, no solo de Cabeça de Dinossauro.
Amigos estou adorando ouvir as coisas novas que estão aparecendo no "Las Mamas Estupendas", mas vou ter que render uma homenagem a uma banda do "mainstream".
Eles estão de volta, no mais alto estilo e, faz alguns dias, estou feito um fã enlouquecido, ouvindo, lendo, vendo, colhendo informações. Já estou maravilhado com o novo álbum do U2, banda com 33 anos de estrada e ainda longe de estar desgastada, ultrapassada, pelo contrário, "No Line On The Horizon" é mais uma prova de vitalidade e vigor da banda.
O vigésimo trabalho de estúdio da banda teve uma história tão ou mais conturbada do que o renegado "Pop" de 1997. Sou suspeito, pois o "Pop", que todos jogam no limbo, é, para mim, um dos melhores trabalhos da banda, mas falemos disto depois, "No Line On The Horizon" é o melhor e mais inovador trabalho da banda, como chegou a anunciar o co-produtor Daniel Lanois? Provavelmente não, não sei, não acredito muito em maniqueismos e extremismos, mas "No Line On The Horizon" é um "discasso", se não fosse do U2, aonde a cobrança é ainda maior, principalmente pelos críticos do bom moço Bono Vox, seria um grande trabalho de qualquer banda iniciante ou até em atividade, no momento. Tem também a questão de toda a expectativa que o álbum causou, foi o maior hiato da carreira do grupo, que havia lançado "How To Dismantle An Atomic Bomb", álbum anterior, em 2004. O grupo resolveu tentar, mais uma vez, um novo produtor, Rick Rubin, que produziu, entre outros grandes sucessos, o "Blood Sugar Sex Magik" do Red Hot Chili Peppers', mas a parceria não deu muito certo e a banda, na dúvida, chamou novamente a dupla Brian Eno e Daniel Lanois, produtores da banda desde "Unforgettable Fire", de 1984, com a única exceção de "Pop". O álbum era para ser lançado em Outubro de 2008, mas a banda pediu mais um tempo, para finalizar algumas canções e, finalmente, no final de Fevereiro de 2009, o álbum foi lançado, com uma novidade, algumas canções trazem a assinatura dos produtores, como co-autores das músicas. Crise de criatividade? Talvez, mas vamos conferir o resultado:
A primeira faixa é "No Line On The Horizon", uma canção com um clima sensacional que, em alguns momentos, me remete ao que melhor foi produzido nos anos 80.
Depois vem "Magnificent", que lembra o próprio U2 em canções pré "Joshua Tree", só que mais maduro e mais alto astral.
Depois entramos na parte mais intimista do álbum, músicas longas, lentas e muito bem executadas. Começa com "Moment Of Surrender".
Depois ouvimos "Unknown Caller", que começa com o canto de passáros do hotel que o grupo utilizou, no Marrocos, como estúdio, não é por acaso que o ritmo tem algo de oriental.
Começamos a crescer novamente com "I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight", aquelas que, como diria o Cristiano, temos a impressão de já conhecer.
Então vem o primeiro single "Get On Your Boots", a primeira com um riff forte, para levantar da cadeira e sair dançando e fazendo "air guitar". Também tem um leve ritmo oriental no refrão.
Agora uma música digna das grandes bandas dos anos 70, "Stand Up Comedy", vejam este inusitado vídeo que encontrei.
Agora entramos na parte mais experimental, começando com "Fez-Being Born".
E passando por "White As Snow". Uma bela balada, que também tem um clima de 70's, para tocar no carro, pela estrada afora...
Então vem a grande candidata a segundo single da banda, "Breathe", sem comentários...
O álbum termina com "Cedars Of Lebanon". Grand finale, mais uma balada cheia de climas e sons eletrônicos, para viajar gostoso. Bon voyage...
A nova empreitada dos quatro rapazes de Dublin ainda trás grandes novidades, que comento oportunamente.